
Ciência Lá e Cá: pesquisa e inclusão caminham juntas na jornada acadêmica internacional
Durante doutorado sanduíche na Universidade da Flórida, Bruno Vinicius Diniz e Silva pesquisou sobre infecção por HIV-1 em mulheres transgêneras no estado de Goiás
Arte: Mailson Diaz
Texto: Maria Eduarda Silva
Estudar em outro país é um sonho para muitos estudantes durante as mais diferentes etapas da trajetória acadêmica, e com Bruno Vinícius Diniz isso não foi diferente. O pesquisador, orientado pela professora Megmar Aparecida dos Santos Carneiro, do Programa de Pós - Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública (PPGMTSP/UFG), conta que, desde o início do doutorado, tinha essa meta em mente.
A oportunidade surgiu por meio de um edital do próprio PPGMTSP, dentro do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), financiado pela Capes. Esse edital fornece a possibilidade de realizar parte do doutorado em alguma universidade do exterior, desde que algum professor de lá aceite receber o aluno.

“A seleção em si foi simples: o programa tinha uma bolsa disponível e eu fui o único inscrito. Para participar, precisei enviar meu projeto de doutorado, uma justificativa explicando porque eu queria ir para a University of Florida, uma carta de aceite do professor de lá e um teste de proficiência em inglês”, relata o doutorando.
A escolha de ir para a Universidade da Flórida em Gainesville, nos Estados Unidos, se deu pela parceria já bem consolidada com o professor Robert Cook, que inclusive esteve na UFG no mês de maio, durante uma palestra do Brainstorm de Ciência sobre HIV, álcool e saúde pública.
Cook é professor do Departamento de Epidemiologia do College of Public Health and Health Professions da Universidade da Flórida, e lidera pesquisas no SHARC (Southern HIV and Alcohol Research Consortium), grupo que busca reduzir os níveis de transmissão do HIV, principalmente entre a população afetada pelo álcool. De acordo com Bruno, outros alunos do grupo de pesquisa do qual faz parte já haviam participado do PDSE e tinham o professor como supervisor, então a escolha dele como coorientador foi natural.

Ele relata que o apoio do SHARC foi muito importante durante o período de adaptação, que ocorreu de forma tranquila, apesar da barreira inicial com o inglês. Bruno conta que graças a esse suporte pôde participar de coletas de dados, disciplinas, grupos de discussão e seminários sobre desenvolvimento de carreira.
Pesquisa
Ao contar sobre a pesquisa que desenvolveu na Universidade da Flórida, o doutorando destaca que sua tese é focada na caracterização molecular da infecção pelo HIV - 1 em mulheres transgêneras no estado de Goiás, com ênfase na atualidade da infecção, resistência ao tratamento e dinâmica de transmissão.
“O SHARC desenvolve pesquisas em epidemiologia do HIV com foco em populações vulneráveis, o que tem total relação com o meu tema. Durante o período na Universidade da Flórida, tive a oportunidade de participar de discussões de projetos relacionados ao cuidado e a prevenção do HIV entre pessoas trans, além de acompanhar atividade de coleta e análise de dados epidemiológicos. Essa vivência me ajudou a ampliar a compreensão sobre diferentes abordagens metodológicas e estratégias de engajamento comunitário, que agora vêm enriquecendo a parte analítica e contextual da minha tese”, explica.
O pesquisador também destaca que o acesso a metodologias mais avançadas foi possibilitado pela diferença entre o financiamento das pesquisas nos Estados Unidos, que muitas vezes são inacessíveis no Brasil, devido ao custo. Além disso, também salienta que há uma diferença significativa nos estudos epidemiológicos:
“Pela minha experiência aqui no Brasil, nós, pesquisadores, costumamos ser responsáveis por praticamente todas as etapas do projeto — desde a coleta de dados até o processamento das amostras e análises laboratoriais. Já nos Estados Unidos, baseado na experiência que tive, essas etapas, especialmente o processamento e a análise de amostras, costumam ser terceirizadas para laboratórios privados. Outro ponto que me chamou atenção foi o recrutamento de participantes. Lá, como é possível oferecer compensação financeira, o interesse em participar de pesquisas acaba sendo maior, o que facilita bastante esse processo”.
Impactos profissionais e pessoais
Para Bruno, estar inserido em um ambiente acadêmico internacional foi uma verdadeira oportunidade de expandir seus horizontes, não só na área científica, mas nos âmbitos profissionais e pessoais. O doutorando conta que participar de atividades diversas, como coletas de dados, seminários, grupos de discussão e disciplinas contribuiu diretamente para o seu amadurecimento acadêmico, além da vivência com uma equipe multidisciplinar, que o ajudou a desenvolver habilidades de trabalho colaborativo em contextos internacionais.
Além disso, a experiência também reforçou seu desejo de continuar na pesquisa, e abriu portas para futuras colaborações e oportunidades de atuação fora do Brasil:
“Durante meu tempo nos Estados Unidos, tive a oportunidade de receber uma bolsa para participar do Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI), um importante congresso internacional voltado para infecções oportunistas e HIV, realizado em São Francisco, Califórnia. Nesse evento, apresentei parte dos resultados da minha tese em formatos oral e pôster. Foi extremamente gratificante poder levar uma parte da pesquisa que estamos desenvolvendo em Goiás para um espaço internacional de tanta visibilidade”, explica.

Ele também relata que percebeu um grande interesse dos participantes na temática, especialmente em relação à infecção pelo HIV em mulheres transgêneras - o que o deixou muito feliz por contribuir, ainda que de forma modesta (em suas palavras), com a redução da invisibilidade dessa população em contextos científicos globais.
A oportunidade de viajar para o exterior durante uma etapa tão marcante da pós - graduação certamente é enriquecedora e única, e Bruno conta que esse momento foi uma verdadeira virada de chave em sua trajetória pessoal e profissional.
“Sou muito grato por tudo o que vivi na University of Florida: as oportunidades de aprendizado, os desafios, e principalmente, as conexões humanas que construí. Conviver com pessoas de diferentes países e culturas foi extremamente enriquecedor e me fez retornar ao Brasil com um olhar ainda mais sensível e valorizador da nossa própria cultura e história. Foi uma experiência transformadora, que ampliou minha visão de mundo e reforçou ainda mais o propósito do meu trabalho com populações historicamente invisibilizadas”, relata.
*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.
Fonte: Comissão de Comunicação do IPTSP
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