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Ciência Lá e Cá: pesquisa e inclusão caminham juntas na jornada acadêmica internacional

Em 30/05/25 15:52. Atualizada em 30/05/25 15:53.

Durante doutorado sanduíche na Universidade da Flórida, Bruno Vinicius Diniz e Silva pesquisou sobre infecção por HIV-1 em mulheres transgêneras no estado de Goiás

Arte: Mailson Diaz

Texto: Maria Eduarda Silva 

Estudar em outro país é um sonho para muitos estudantes durante as mais diferentes etapas da trajetória acadêmica, e com Bruno Vinícius Diniz isso não foi diferente. O pesquisador, orientado pela professora Megmar Aparecida dos Santos Carneiro, do Programa de Pós - Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública (PPGMTSP/UFG), conta que, desde o início do doutorado, tinha essa meta em mente. 

A oportunidade surgiu por meio de um edital do próprio PPGMTSP, dentro do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), financiado pela Capes. Esse edital fornece a possibilidade de realizar parte do doutorado em alguma universidade do exterior, desde que algum professor de lá aceite receber o aluno. 

Bruno Vinícius na Universidade da Flórida
Doutorando Bruno Vinícius na Universidade da Flórida

 

“A seleção em si foi simples: o programa tinha uma bolsa disponível e eu fui o único inscrito. Para participar, precisei enviar meu projeto de doutorado, uma justificativa explicando porque eu queria ir para a University of Florida, uma carta de aceite do professor de lá e um teste de proficiência em inglês”, relata o doutorando. 

A escolha de ir para a Universidade da Flórida em Gainesville, nos Estados Unidos, se deu pela parceria já bem consolidada com o professor Robert Cook, que inclusive esteve na UFG no mês de maio, durante uma palestra do Brainstorm de Ciência sobre HIV, álcool e saúde pública. 

Cook é professor do Departamento de Epidemiologia do College of Public Health and Health Professions da Universidade da Flórida, e lidera pesquisas no SHARC (Southern HIV and Alcohol Research Consortium), grupo que busca reduzir os níveis de transmissão do HIV, principalmente entre a população afetada pelo álcool. De acordo com Bruno, outros alunos do grupo de pesquisa do qual faz parte já haviam participado do PDSE e tinham o professor como supervisor, então a escolha dele como coorientador foi natural. 

grupo sharc
Bruno Vinícius e outros integrantes do Grupo SHARC com o professor Robert Cook. Imagem: Arquivo Pessoal Bruno Vinícius

 

Ele relata que o apoio do SHARC foi muito importante durante o período de adaptação, que ocorreu de forma tranquila, apesar da barreira inicial com o inglês. Bruno conta que graças a esse suporte pôde participar de coletas de dados, disciplinas, grupos de discussão e seminários sobre desenvolvimento de carreira.

Pesquisa 

Ao contar sobre a pesquisa que desenvolveu na Universidade da Flórida, o doutorando destaca que sua tese é focada na caracterização molecular da infecção pelo HIV - 1 em mulheres transgêneras no estado de Goiás, com ênfase na atualidade da infecção, resistência ao tratamento e dinâmica de transmissão. 

“O SHARC desenvolve pesquisas em epidemiologia do HIV com foco em populações vulneráveis, o que tem total relação com o meu tema. Durante o período na Universidade da Flórida, tive a oportunidade de participar de discussões de projetos relacionados ao cuidado e a prevenção do HIV entre pessoas trans, além de acompanhar atividade de coleta e análise de dados epidemiológicos. Essa vivência me ajudou a ampliar a compreensão sobre diferentes abordagens metodológicas e estratégias de engajamento comunitário, que agora vêm enriquecendo a parte analítica e contextual da minha tese”, explica. 

O pesquisador também destaca que o acesso a metodologias mais avançadas foi possibilitado pela diferença entre o financiamento das pesquisas nos Estados Unidos, que muitas vezes são inacessíveis no Brasil, devido ao custo. Além disso, também salienta que há uma diferença significativa nos estudos epidemiológicos:

“Pela minha experiência aqui no Brasil, nós, pesquisadores, costumamos ser responsáveis por praticamente todas as etapas do projeto — desde a coleta de dados até o processamento das amostras e análises laboratoriais. Já nos Estados Unidos, baseado na experiência que tive, essas etapas, especialmente o processamento e a análise de amostras, costumam ser terceirizadas para laboratórios privados. Outro ponto que me chamou atenção foi o recrutamento de participantes. Lá, como é possível oferecer compensação financeira, o interesse em participar de pesquisas acaba sendo maior, o que facilita bastante esse processo”. 

Impactos profissionais e pessoais 

Para Bruno, estar inserido em um ambiente acadêmico internacional foi uma verdadeira oportunidade de expandir seus horizontes, não só na área científica, mas nos âmbitos profissionais e pessoais. O doutorando conta que participar de  atividades diversas, como coletas de dados, seminários, grupos de discussão e disciplinas contribuiu diretamente para o seu amadurecimento acadêmico, além da vivência com uma equipe multidisciplinar, que o ajudou a desenvolver habilidades de trabalho colaborativo em contextos internacionais. 

Além disso, a experiência também reforçou seu desejo de continuar na pesquisa, e abriu portas para futuras colaborações e oportunidades de atuação fora do Brasil: 

“Durante meu tempo nos Estados Unidos, tive a oportunidade de receber uma bolsa para participar do Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI), um importante congresso internacional voltado para infecções oportunistas e HIV, realizado em São Francisco, Califórnia. Nesse evento, apresentei parte dos resultados da minha tese em formatos oral e pôster. Foi extremamente gratificante poder levar uma parte da pesquisa que estamos desenvolvendo em Goiás para um espaço internacional de tanta visibilidade”, explica. 

bruno croi
Doutorando Bruno Vinícius Diniz durante o congresso internacional CROI (Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections) 

 

Ele também relata que percebeu um grande interesse dos participantes na temática, especialmente em relação à infecção pelo HIV em mulheres transgêneras - o que o deixou muito feliz por contribuir, ainda que de forma modesta (em suas palavras), com a redução da invisibilidade dessa população em contextos científicos globais.  

A oportunidade de viajar para o exterior durante uma etapa tão marcante da pós - graduação certamente é enriquecedora e única, e Bruno conta que esse momento foi uma verdadeira virada de chave em sua trajetória pessoal e profissional. 

“Sou muito grato por tudo o que vivi na University of Florida: as oportunidades de aprendizado, os desafios, e principalmente, as conexões humanas que construí. Conviver com pessoas de diferentes países e culturas foi extremamente enriquecedor e me fez retornar ao Brasil com um olhar ainda mais sensível e valorizador da nossa própria cultura e história. Foi uma experiência transformadora, que ampliou minha visão de mundo e reforçou ainda mais o propósito do meu trabalho com populações historicamente invisibilizadas”, relata.

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*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.

Fonte: Comissão de Comunicação do IPTSP

Categorias: Notícias