PPGSC reúne especialistas para mesa-redonda

PPGSC reúne especialistas para discutir os principais entraves da rede pública de saúde

Em 28/03/25 10:37. Atualizada em 28/03/25 14:31.

O encontro reforçou a necessidade de um olhar mais amplo sobre a saúde pública

Texto, arte e fotos: Ana Júlia Mendes

Os desafios do acesso à saúde no estado de Goiás foram tema central da mesa-redonda promovida pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) do IPTSP/UFG, realizada na última sexta-feira (21). O encontro reuniu gestores e especialistas da área para discutir os principais entraves da rede pública de saúde, incluindo financiamento, regulação, qualidade dos serviços e atenção primária.  

A atividade integrou a disciplina Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, ministrada pela professora e coordenadora do PPGSC, Edsaura Maria Pereira, e teve como foco as dificuldades no acesso aos serviços de saúde no estado, os gargalos na atenção primária e especializada e as desigualdades regionais.

Edsaura introduzindo a mesa
 Professora Edsaura Maria Pereira iniciando a mesa-redonda

 

A mesa também contou com a participação de renomados especialistas. Verônica Savatin, egressa do PPGSC e Secretária de Saúde de Senador Canedo e Lucilene Maria de Sousa, diretora executiva da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (FUNDAHC).  Flávia Souza, coordenadora de saúde da Fundação discutiu temas como gestão hospitalar e atendimento materno-infantil. Wiley Alves, sanitarista e servidor da SES-GO, compartilhou sua experiência no trabalho com direitos humanos e populações vulnerabilizadas. Já Marema Patrício, docente convidada da Fiocruz e da Unifesp, além de ex-secretária de Saúde em diversos municípios de Minas Gerais e de Cristalina (GO), contribuiu com seu amplo conhecimento sobre gestão de políticas públicas e articulação intermunicipal no Sistema Único de Saúde.

Principais temas discutidos:  

1. Determinantes sociais da saúde:  

  O debate destacou como fatores socioeconômicos, de gênero e raça influenciam diretamente o acesso aos serviços de saúde. A falta de políticas públicas voltadas para populações vulneráveis e a desigualdade na distribuição dos recursos foram apontadas como barreiras para a equidade no SUS. Reforçando essa perspectiva, Wiley Alves, sanitarista da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás, afirmou: "O acesso à saúde é um problema estrutural e social. Precisamos de políticas públicas que garantam equidade e que considerem as especificidades das populações mais vulneráveis."  

2. Financiamento e desafios da gestão:  

   Os participantes alertaram para os impactos da má gestão dos recursos na oferta de serviços, ressaltando que a saúde não pode depender apenas da ação de gestores, mas precisa de um compromisso coletivo do poder público para garantir continuidade e eficiência.  

3. Regulação e burocracia no SUS:  

   Casos concretos foram apresentados para ilustrar os problemas enfrentados por pacientes que dependem do sistema de regulação. Como por exemplo, a frequência em que pacientes são encaminhados para municípios distantes sem um critério claro, gerando atrasos no atendimento e agravamento de quadros clínicos. Dentre outras deficiências do atendimento na atenção primária. 

4. Baixa cobertura vacinal e dificuldades no acesso às vacinas:  

   A mesa também discutiu os impactos do movimento antivacina e da desinformação, mas destacou que um grande agravante da baixa cobertura vacinal é a má gestão dos horários e locais de vacinação. Em muitos municípios, as salas de vacina funcionam em horários restritos, dificultando o acesso para trabalhadores e pais de crianças pequenas. Os especialistas defenderam a necessidade de horários alternativos e campanhas mais eficientes para aumentar a adesão.  

5. Atenção primária e pré-natal:  

 Um dos pontos mais debatidos foi a falta de vínculo entre os níveis de atenção, e dentre as suas muitas consequências, está a dificuldade no acompanhamento de gestantes. Casos de mortalidade materna foram citados como exemplos da necessidade de melhorar a identificação precoce de gestantes de alto risco e a qualidade do pré-natal oferecido pelo SUS. Além disso, um número alarmante de gestantes chega às unidades de saúde pela emergência e não retorna para as consultas de acompanhamento, enquanto outras iniciam o pré-natal apenas no final da gestação, devido à falta de acesso e informação. 

 Reforçando essa preocupação, Lucilene Maria de Sousa, diretora-executiva da FUNDAHC, destacou: "As maternidades enfrentam uma alta demanda, e muitas gestantes chegam sem qualquer acompanhamento prévio. Precisamos repensar a comunicação entre os níveis de atenção para evitar complicações evitáveis."

6. Deficiências na capacitação dos profissionais de saúde:

 Um problema apontado pelos especialistas foi a falta de formação prática voltada ao SUS durante a capacitação de médicos e enfermeiros. Embora grande parte dos alunos da rede pública sejam contratados pelo SUS, muitos deles não têm uma formação direcionada para esse ambiente. A maioria das universidades concentra o ensino em hospitais-escola e unidades especializadas, deixando uma parcela muito pequena da grade para disciplinas como Saúde Coletiva. Esses alunos ingressam em áreas estratégicas do SUS sem saber, por exemplo, o que é a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o que prejudica a adaptação dos profissionais diante da demanda das unidades.

7. Regionalização da saúde:  

   A falta de integração entre municípios e a dificuldade na organização de redes regionais de atendimento foram apontadas como entraves para a melhoria do acesso. A secretária municipal de Saúde de Senador Canedo, Verônica Savatin, destacou a importância de fortalecer a "redinha municipal" antes de tentar integrar os serviços em nível estadual. Sobre esse desafio, a secretária ressaltou: "A organização da atenção primária e a regulação de pacientes ainda são desafios gigantes. Precisamos garantir que cada município conheça sua população e consiga ofertar serviços adequados às suas necessidades."

Componentes da mesa
Componentes da mesa em meio a discussão

 

O encontro reforçou a necessidade de um olhar mais amplo sobre a saúde pública, levando em conta não apenas a oferta de serviços, mas também as barreiras sociais e estruturais que dificultam o acesso. Confira o box com os principais levantamentos da discussão abaixo:

 

Box de informações principais levantamentos mesa

Mesa redonda Desafios do acesso à saúde em Goiás
Alunos e convidados em momento de integração ao final do debate

 

*Ana Júlia Mendes é estagiária de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.

Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP

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