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Disciplina de Cuidado e Manejo de Animais reúne palestras multidisciplinares sobre o cuidado humanitário com animais

On 10/20/25 13:06 . Updated at 10/20/25 13:09 .

O curso foi ministrado no Auditório do IPTSP e era aberto a estudantes de graduação, pós-graduação, servidores e professores 

Texto e fotos: Maria Eduarda Silva

Durante os dias 29 de setembro e 1º de outubro de 2025, o curso de Cuidado e Manejo de Animais de Laboratório para Pesquisa e Ensino foi ministrada no Auditório do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP). 

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Público da disciplina Cuidado e Manejo de Animais, no auditório do IPTSP

 

O curso também ofertado pelo programa UFG Doutoral, atende a Resolução Normativa (RN) nº 49 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal CONCEA), que dispõe da obrigatoriedade de capacitação de pessoas envolvidas em atividades de ensino e pesquisa científica que utilizam animais. 

A formação contou com uma carga horária de 16 horas e foi uma colaboração entre o Centro Multiusuário de Produção e Experimentação Animal (CMPEA/IPTSP), coordenado pela professora Marina Pacheco Miguel, também responsável pelo evento, e o Centro de Produção e Ciência em Biomodelos (CPCBio). 

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Professora Marina Pacheco Miguel, coordenadora do evento 

 

Após a abertura do evento e apresentação da disciplina, a doutora Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera, grande referência na área e doutora em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás (UFG), ministrou quatro palestras, sendo elas: 

“Ética no uso de animais em experimentação e ensino”

“Introdução à Ciências de Laboratório e sua legislação” 

“Os 3 R´s e alternativas ao uso de animais em ensino e pesquisa” e

“Legislação brasileira sobre uso de animais em pesquisa”

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Dra. Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera. A pesquisadora já recebeu o título de Notório Saber pela UFG e premiações nacionais e internacionais na área de Ciência de Animais de Laboratório

 

As palestras introduziram o uso ético dos animais para a pesquisa e o ensino em laboratórios, e trouxeram especificações dos animais comumente utilizados em pesquisas científicas, como sua temperatura corporal e sensibilidade à luz. O bem-estar dos animais também foi um ponto discutido. 

“O primeiro passo para assegurar o bem - estar do animal é promover a cooperação; apoiando-o e interagindo de forma positiva no dia a dia. É muito importante diminuir as experiências negativas, como a fome, mal estar, e aumentar as positivas, mantê-los saciados, tranquilos, brincando e se movimentando”, explica a professora. 

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Entre outras especificidades destacadas, a necessidade de cuidado durante o transporte dos animais até o local de pesquisa também foi ressaltada, além da diminuição de fatores que podem causar estresse negativo, como luzes muito fortes e temperaturas não adequadas. Ao final, foram esclarecidas dúvidas dos participantes dos eventos. 

Na parte da tarde, o professor Leandro Guimarães Franco, doutor em Ciência Animal pela UFG, foi responsável pelas palestras:

“Entendendo a RN 49/CONCEA”

“Dor e analgesia em animais de laboratório e seus impactos na pesquisa” e 

“Anestesia em animais de laboratório”. 

Na manhã do dia 30, a primeira palestrante foi a professora Renata Mazaro e Costa, doutora em Fisiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, onde coordena o Laboratório de Fisiologia e Farmacologia da Reprodução. Em sua palestra, “Manejo reprodutivo de roedores”, foram demonstrados mais detalhes a respeito do processo de reprodução dos animais, como comportamentos específicos de cortejo entre os roedores, que envolvem odores (feromônios), contato físico e outras ações corporais como: balançar as orelhas, correr e saltitar. Esses comportamentos podem atrair parceiros e indicar a disponibilidade reprodutiva, no caso das fêmeas.

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Professora Renata Mazaro e Costa 

 

Também foi discutida a importância do ambiente para o processo reprodutivo, que deve estar livre de ruídos (o que pode cessar a gestação, caso sejam muito intensos), e a importância da alimentação fornecida de maneira correta aos roedores. 

Na segunda parte da manhã, a professora Liliana Borges de Menezes, doutora em Ciência Animal, professora no IPTSP e vice - coordenadora do CMPEA/IPTSP ministrou a palestra “Tipos de biotérios, status e cuidados sanitários”. A professora introduziu sua fala com a importância do respeito aos procedimentos estabelecidos pela Comissão de Ética em Uso de Animais (CEUA), do qual é membra, e também da Resolução Normativa Concea n° 49, que estabelece a obrigatoriedade da capacitação de pessoas envolvidas em atividades de ensino e pesquisa científica que utilizam animais. 

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Professora Liliana Borges de Menezes, vice - coordenadora do CMPEA/IPTSP 

 

Em seguida, falou sobre os tipos de instalação de animais, diferenciando as instalações de criação, voltadas para a manutenção do bem - estar animal, com ambiente controlado e com profissionais capacitados para fazer o acompanhamento, e as instalações de manutenção e utilização. 

Também foram tratadas as especificações necessárias para as instalações, que envolvem o controle de ventilação, ambientação, iluminação, higienização e sanitização. Ao final da apresentação, os participantes presentes no auditório foram convidados a responder perguntas sobre o conteúdo, com direito a premiação caso acertassem. 

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Público do evento na dinâmica proposta pela professora Liliana Borges de Menezes

 

Durante a tarde, o professor Thiago Lopes Rocha, coordenador do Laboratório de Biotecnologia Ambiental e Ecotoxicologia (LaBAE) e do setor de animais do CMPEA/IPTSP, falou sobre noções de manejo e bem estar de peixes empregados em pesquisa. Em seguida, o médico veterinário responsável pelo biotério do IPTSP, Daniel Silva Goulart, ministrou uma palestra sobre os procedimentos para solicitação e uso do CMPEA/IPTSP, e outra sobre pontos finais humanitários e eutanásia. 

No último dia do curso, a médica veterinária e doutora em Ciência Animal pela UFG, Taís Andrade Dias de Souza, conduziu palestras com os seguintes temas:

“Procedimentos para solicitação e uso do CPCBio/PRPI” 

“Ambiência para animais de laboratório - Cuidados de rotina”

“Manejo gentil e enriquecimento ambiental de roedores”

Foram abordadas as principais orientações para a solicitação e retirada de animais no Centro de Produção e Ciência em Biomodelos (CPC/Bio), além dos cuidados de rotina essenciais para a ambiência correta para animais de laboratório. 

O manejo gentil e enriquecimento ambiental também foi uma parte importante da apresentação, principalmente devido às demonstrações corretas de como manejar os animais de modo que não cause estresse, desconforto ou fugas. Além disso, foram apresentadas formas de introduzir estímulos sensoriais, como plantas nos recintos, cores diferentes, músicas (a depender da sensibilidade auditiva do animal), entre outros. De acordo com a médica veterinária, também coordenadora e responsável técnica do Biotério Central da UFG: 

“Esses estímulos sensoriais podem ajudar aqueles animais que precisam ficar em isolamento”. 

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Taís Andrade Dias de Souza, médica veterinária e doutora em Ciência Animal pela UFG

 

Assim, o enriquecimento ambiental não é apenas para diversificar o ambiente, mas também para garantir o bem - estar e estimular positivamente os animais que passam grandes períodos de tempo isolados. 

O curso foi concluído com palestras da professora Marina Pacheco Miguel sobre protocolos de pesquisa em comissões éticas e administração de substâncias e coleta de amostras biológicas. 

Reconhecimento e Importância 

Ao final do curso, o médico cirurgião Renato Miranda de Melo, graduado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em cirurgia na Faculdade de Medicina (FM), na UFMG, elogiou a iniciativa e o conteúdo do curso. Atualmente aposentado como professor, o médico já realizou um pós - doutorado pelo Programa de Pós - Graduação em Ciências da Saúde, da Faculdade de Medicina da UFG, em 2022, e está realizando o segundo no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), também na UFG. 

O interesse no curso veio justamente para a realização do pós - doutorado, voltado para a pesquisa sobre hérnias abdominais, sua especialidade desde 1996, que envolverá o uso de roedores. Apesar de ter formação no assunto, Renato Miranda de Melo ressalta a importância de manter esses conhecimentos atualizados: 

“A reciclagem é sempre bem - vinda, porque as coisas mudam e, sobretudo, os parâmetros e as normativas éticas se aprimoram, e você tem que se adequar a isso para que a pesquisa seja bem feita. E não apenas bem feito do ponto de vista metodológico, mas de não causar dano desnecessário a qualquer ser vivo, seja humano ou um animal. Eu fiz questão de fazer o curso e adorei a oportunidade”, comenta.

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Professor Renato Miranda de Melo, médico cirurgião referência no âmbito de hérnias da parede abdominal

 

O cirurgião é, também, coordenador do Serviço de Cirurgia da Parede Abdominal, no Hospital Municipal de Aparecida (HMAP), sob gestão do Hospital Albert Einstein (HAE), e coordenador do Projeto de Extensão em Hérnias Complexas, oferecido pela FM, da UFG. 

Ele ressalta a importância pela busca ao conhecimento durante o período de graduação e formação: 

“Não fazemos uma faculdade só para pegar um diploma. É importante aproveitar as oportunidades e aprender o máximo que você puder naquela trajetória, naquele espaço, naquele momento. As pessoas vão estar disponíveis para ajudar a aprender, mas o aprendizado é você quem vai construir”.

O pensamento foi ilustrado com a citação de Paulo Freire: “O processo de ensino e aprendizagem é uma via de mão dupla”, isto é, aquele que ensina assume uma postura dialética com o aluno, que também traz consigo uma bagagem importante, que não deve ser ignorada. 

“É importante construir o conhecimento com seus pares, com professores, com colegas. Essa experiência é também um ato político, porque é o que nos situa politicamente na sociedade”, complementa.

O profissional elogiou a qualidade e relevância do curso oferecido, e lamentou que fosse tão curto, devido a importância do debate e exposição sobre o tema. 

 

 

*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.

Source: Comissão de Comunicação do IPTSP

Categories: Notícias