
Prêmio CAPES de Tese 2025 - Inovação alia alta tecnologia à biodiversidade brasileira, oferecendo uma alternativa para controlar a esquistossomose
Maxwell Batista é doutor pelo PPGBRPH e vibra pelo reconhecimento nacional
Texto: Marina Sousa
Arte: Mailson Diaz
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou, em 29 de agosto, o resultado final do Prêmio Capes de Tese 2025, que reconhece os melhores trabalhos de doutorado defendidos no ano anterior à cerimônia. Entre os premiados desta edição está Maxwell Batista, doutor em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro pelo IPTSP/UFG, cuja tese foi sobre o uso de nanopartículas verdes no combate à esquistossomose, doença causada pelo parasita Schistosoma mansoni, que infelizmente é uma doença muito comum no Brasil.
“Toxicidade de nanopartículas verdes de óxido de cobre ao longo do desenvolvimento de Biomphalaria glabrata (Mollusca: Planorbidae)”, foi orientada pelo professor Thiago Lopes Rocha do Programa de Pós-graduação em Biologia da Relação Parasita- Hospedeiro (PPGBRPH), e também coordenador do Laboratório de Biotecnologia Ambiental e Ecotoxicologia (LaBAE), onde a pesquisa também foi desenvolvida. Batista conta que ficou muito feliz com o reconhecimento, e que embora sempre falassem para ele que a pesquisa era promissora, ele ficou surpreso e extremamente agradecido por ter recebido esse reconhecimento.
“A menção honrosa colocou a tese entre as três melhores do país na área de Ciências Biológicas III, o que tem um peso enorme, já que concorreu com trabalhos de instituições de grande prestígio nacional, como USP, UFRJ e Fiocruz”, destacou Maxwell. Ele relembra que o início da pesquisa foi marcado por desafios, pois parte do trabalho coincidiu com a pandemia de COVID-19. Além do impacto psicológico e da incerteza sobre o controle da doença, as restrições às atividades presenciais e experimentais no laboratório exigiram adaptação. Nesse período, Maxwell aprofundou os estudos sobre o tema, mapeando problemáticas, metodologias e lacunas de conhecimento que serviram de base para as etapas seguintes da tese.
Do Cerrado ao laboratório
Na busca por alternativas sustentáveis para combater a esquistossomose ou como é popularmente chamada de barriga-d’água, os pesquisadores avaliaram o efeito de nanopartículas “verdes” de óxido de cobre, que são produzidas a partir de extratos a planta Croton urucurana, que é popularmente conhecida como sangra-d’água sobre o caramujo Biomphalaria glabrata, hospedeiro intermediário do parasito Schistosoma mansoni, causador da doença. Confira o esquema a seguir:
Maxwell Batista relata que a estratégia busca controlar a população desses caramujos e, assim, quebrar o ciclo de transmissão da esquistossomose, utilizando recursos naturais de forma menos agressiva ao meio ambiente. As chamadas nanopartículas verdes são desenvolvidas utilizando compostos naturais e têm ganhado destaque por apresentarem menos riscos ao meio ambiente e à saúde humana em comparação a produtos químicos tradicionais. Neste estudo, as nanopartículas foram sintetizadas e caracterizadas em diferentes laboratórios da Universidade Federal de Goiás (UFG), garantindo precisão na análise de suas propriedades físico-químicas.
Passo a passo
A pesquisa começou com uma revisão da literatura científica sobre o uso do teste de embriotoxicidade em Biomphalaria, caramujo que transmite o parasita Schistosoma mansoni. Em seguida, as nanopartículas foram sintetizadas e analisadas em diferentes laboratórios da universidade, com equipamentos de alta precisão que permitiram avaliar tamanho, forma, carga elétrica e estabilidade do material.
Na etapa seguinte, vieram os experimentos biológicos. Caramujos em diferentes fases de desenvolvimento — embriões, recém-nascidos e adultos — foram expostos às nanopartículas e ao extrato natural da planta. Os resultados revelaram três achados principais:
- As nanopartículas foram mais eficazes que o extrato natural em causar a morte ou atrasar o desenvolvimento dos caramujos;
- Os caramujos recém-nascidos se mostraram os mais sensíveis ao tratamento;
- Em doses menores, as nanopartículas provocaram danos no DNA e alterações celulares, indicando efeitos genotóxicos e mutagênicos.
Apesar da necessidade de novos testes, os pesquisadores destacam que a estratégia pode se transformar em um moluscicida mais sustentável e eficiente que os disponíveis atualmente. A inovação alia alta tecnologia à biodiversidade brasileira, oferecendo uma alternativa para controlar a esquistossomose, doença negligenciada que ainda afeta milhares de pessoas.
Os próximos passos incluem avaliar a segurança das nanopartículas em espécies não alvo, estudar os impactos em ambientes naturais e verificar a viabilidade de produção em larga escala. Se confirmada, a solução pode transformar a forma como o Brasil e outros países enfrentam a esquistossomose, também conhecida como barriga-d’água.
O trabalho contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), por meio do edital PPSUS, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que concedeu bolsas de estudo. O caráter multidisciplinar envolveu diferentes centros e laboratórios da UFG e do IFGoiano, como os Laboratórios Multiusuários do IPTSP, o CMBiotecs, o CMPEA, o LabMic, o CRTI e o Laboratório de Materiais e Eletroanalítica.
Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP
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