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Lula vem à UFG pela primeira vez para participar do 60º Conune

Em 17/07/25 21:29. Atualizada em 18/07/25 09:56.

Presidente da República incentivou estudantes a levar a educação política para as periferias

Texto: Caroline Pires

Fotos: Carlos Siqueira e Júlia Barros 

 

O dia 17 de julho de 2025 ficará marcado na memória das pessoas que lotaram o Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, da Universidade Federal de Goiás (UFG). O espaço, que usualmente recebe toda a alegria dos alunos da Instituição, quando fazem suas matrículas e também quando colam grau, na quinta-feira foi abraçado por estudantes dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal que, a plenos pulmões, defenderam que "o Brasil se escreve com S, de soberano", enquanto recebiam o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em um discurso, que foi interrompido diversas vezes por palavras de ordem e de apoio ao governante, o presidente ressaltou as conquistas da educação brasileira, muitas vezes obtidas a contragosto das elites, e convocou a juventude a conversar fora dos muros das universidades, abrindo debates públicos e sociais que sejam capazes de comunicar efetivamente, gerando transformação social e uma visão socialmente engajada. Na ocasião, o presidente sancionou o projeto de lei nº 3.118/2024, que alterou a lei nº 12.858/2000, para incluir as políticas de assistência estudantis da educação superior e da educação profissional, científica e tecnológica entre as prioridades para o recebimento de recursos do Fundo Social, e a lei nº 14.914, para dispor sobre a aplicação de receitas para o atendimento a estudantes beneficiados por políticas de ações afirmativas de reserva de vagas da educação superior, profissional, científica e tecnológica pública federal. O cenário deste momento histórico foi a realização do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune). Clique aqui para ver o álbum completo de fotos do evento.

Luiz Inácio Lula da Silva iniciou sua fala afirmando que "a União Nacional dos Estudantes é responsável por termos conquistado tanta coisa na educação desse País, e eu entendo que foi muito difícil nos apoiar nesses anos todos". Segundo ele, na criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), programa governamental que destina bolsas de estudos em instituições de ensino superior privadas, o governo sofreu diversas críticas, "as pessoas demoraram a compreender que estávamos cobrando dívidas de instituições e transformando isso em bolsas de estudo. Eu tenho muito orgulho porque em qualquer lugar que eu vou nesse País, estudantes e pais vêm agradecer a chance de terem tido acesso a um curso superior", lembrou o presidente. Já sobre o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), Lula afirmou: "quem quer ser fiador de estudante? Pois nós decidimos que o Estado Brasileiro seria. Isso não é pouco. Em pouquíssimo tempo nós dobramos o número de estudantes em universidades. E ao contrário do que se pensa, esse número ainda é pouco comparado com o Chile e a Argentina", exemplificou. O presidente lembrou a história do Brasil para comprovar a discrepância de realidades, mesmo entre países da América Latina. "A República Dominicana teve sua primeira universidade apenas 40 anos após o seu descobrimento, no Brasil essa conquista só chegou no início do século XX, com quase 400 anos de atraso. A elite que dirigia o País não queria ver pobre na universidade", afirmou.

 

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Lula: "não quero uma sociedade de algoritmos, quero uma sociedade de humanistas"

 

Ao revisitar sua trajetória de vida, Lula lembrou que só foi comer pão francês aos sete anos de idade e que não tem diploma de curso superior. "Vocês pensam que eu tenho orgulho? Isso não é motivo de orgulho pra ninguém: dizer que não tem um diploma universitário. Mas eu tenho orgulho em dizer que fui o presidente que mais fez universidades e escolas técnicas e que investiu em educação na história desse País", ressaltou. O presidente afirmou que, ao chegar ao poder, a esquerda brasileira tem um enorme desafio: "do papel de saber se nós somos capazes de fazer acontecer tudo aquilo que reivindicamos dos outros".

O presidente ressaltou ainda que todos os seres humanos são políticos e que não há como fugir dessa responsabilidade e dos embates que estão embutidos nessa verdade. "Não tem nada mais ignorante do que se dizer que não se é político. Somos políticos desde o dia que nascemos. É importante que a gente transforme nessa coisa que é da natureza em algo pensado estrategicamente. Vocês tiveram nos governos do Lula e Dilma o que nenhum outro estudante teve antes na história desse País, porque os governos anteriores não atendiam nem reitores, com medo de ter reivindicação. Mas eu digo a vocês: reivindiquem, enquanto é tempo de reivindicar", convocou o presidente. Até o final de 2026, o Brasil passará a ter 782 institutos federais, "o que é pouco, mas precisamos lembrar que em 100 anos, a elite brasileira fez apenas 140 institutos federais", lembrou. 

Tocando em temas atuais da política brasileira, Lula lembrou que os Estados Unidos tem um enorme superávit no comércio com o Brasil e que "o nosso País não vai ceder a chantagens. Vamos responder de forma mais democrática possível que nenhum país irá se meter em nossos problemas internos. Se o Trump morasse no Brasil e fizesse aqui o que fez no Capitólio, teria sido julgado e preso", afirmou o presidente. Ele lembrou ainda que o Brasil irá sediar a 30ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima (COP 30), em novembro deste ano. "Nós iremos pensar estratégias globais. Que eles paguem para manter nossas florestas de pé, porque a deles já destruíram completamente. Conselho nós até ouvimos, mas determinação sobre a nossa soberania, não vamos aceitar", defendeu. 

Discursando, de uma forma em diversos momentos paternal, o presidente afirmou aos estudantes que queria "chamar a atenção de vocês da forma mais carinhosa possível: se queremos mudar o Brasil nós precisamos fazer mais do que temos feito". Lembrando que eleições serão realizadas no próximo ano, o presidente instigou os estudantes a participarem ativamente da formação política dos jovens brasileiros. "Acho que a UNE deveria montar equipes de estudantes para visitar as periferias, conversar com a juventude que não tem chance de estudar", disse. Lula afirmou que entende que, principalmente a juventude do País, está muito vulnerável, "se a luta for feita na base da inteligência artificial, pode acontecer no Brasil o mesmo que houve na Argentina ou nos Estados Unidos. Queremos um presidente eleito por inteligência humana. Não quero uma sociedade de algoritmos, quero uma sociedade de humanistas, que pense com a cabeça e com o coração, companheiros de carne e osso", finalizou.  

 

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Angelita: valor histórico da vinda do presidente Lula é incalculável

 

A reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, entende que a vinda do presidente tem um enorme valor histórico e é uma demonstração de enorme sensibilidade de Lula, especialmente depois do trágico acidente sofrido pelos estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), ocorrido na véspera, quando estavam a caminho do congresso. "A vinda do presidente fortaleceu ainda mais o movimento estudantil promovendo a bravura e a coragem. Ele trouxe uma extensa comissão de ministros e isso é uma demonstração de um momento importante e singular do País, que é essa ação do governo para fortalecer as políticas públicas da área da educação". A reitora considera que, além de um estadista como poucos, o presidente consegue se dirigir aos estudantes com enorme delicadeza, "em um discurso para formação da juventude, já que ele tem consciência de que é necessário que ela seja muito bem formada, especialmente nos grandes temas da atualidade. Cada estudante é a mola propulsora para movimentar o País", concluiu. 

A educação superior no Brasil no rumo certo

Márcio Macêdo, ministro-chefe da Secretaria-Geral de Presidência da República, foi o primeiro a discursar na manhã de atividades do Conune, enaltecendo a diversidade de estudantes presentes. Segundo ele, "cada um de vocês que entrou por essas portas, entrou como estudante, mas irá sair como um sujeito combativo, quanto um cidadão pronto para defender a soberania do País. Em meio a dor, nós vamos unificar o País em defesa do Brasil e dos brasileiros, contra os que se apropriaram das cores da bandeira em prol de interesses próprios", afirmou. Já a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, defendeu que a dor deve ser transformada em luta, "nós queremos transformar essa for em luta, para fazer valer os sonhos desses meninos e meninas. Estamos diante de um cenário de ataques a soberania do País e que nossa juventude nunca negou fogo, e não será agora. Seguiremos ativos. São os estudantes, os professores e as universidades desse País que se apresentaram nos momentos mais difíceis", lembrou. Por fim, a ministra reafirmou o seu compromisso em continuar lutando para garantir a taxação de ricos, o fim da escala de trabalho 6x1 e luta pela inovação e tecnologia do Brasil. 

"O que nos une nesse momento da UNE é a defesa intransigente da educação pública do Brasil e estamos aqui com estudantes de todos os estados brasileiros que estão demonstrando o seu compromisso com o futuro do Brasil", iniciou seu discurso o ministro da Educação, Camilo Santana. Ele lembrou que assumiu o mandato encarando um Ministério da Educação que havia sido completamente desmantelado, com o pior orçamento possível, servidores há seis anos sem reajustes salariais, reitores, estudantes e professores que não eram recebidos em Brasília. "Enfrentamos hoje o desafio de reconstruir e consolidar o que já foi feito. Queremos garantir sustentabilidade orçamentária para nossas universidade para que o filho do trabalhador siga tendo acesso e realizando seus estudos com todo o suporte possível", afirmou o ministro. A quarta ministra a compor a comitiva presidencial, foi Margareth Menezes, ministra da Cultura. Ela afirmou que o Brasil, por anos, não teve seu olhar voltado para os pobres e nem o incentivo a cultura, "mas estamos aqui para que todos possam reivindicar e ocupar os seus espaços. Cultura também é respeitar a soberana e lutar pelo meio ambiente, pelas políticas culturais continuem sendo um direito garantido para o povo brasileiro. Viva a diversidade cultural desse país. Seguiremos lutando por isso", concluiu. 

Manuella Mirella da Silva, presidenta da UNE, iniciou seu discurso convocando todos a entoarem "a UNE somos nós, nossa força e nossa voz". Filha de empregada doméstica e um feirante, a presidenta está a frente a entidade há dois anos. "Nossa terra está sendo ameaçada por vira-latas imperialistas, mas nos, estudantes brasileiros e a América é só se for a América Latina. Nossa bandeira é a verde e amarela. Esse nosso lugar hoje é uma resistência. Nesse momento cedemos toda a força da juventude brasileira pra defender nosso País dessa ofensiva contra a soberania brasileira. Brasil se escreve com 'S' de soberano. Entendemos que diante do modelo neoliberal fracassado é imperativa a necessidade de uma nova ordem mundial mais unida e verdadeiramente democrática". Ela lembrou que em 2024, 35% dos jovens deixaram de ingressar em universidade e gastaram economias em apostas. "Impérios são construídos com a manipulação que faz o povo perder o pouco que tem. Regulamentação já", defendeu. Manuella Mirella falou da vocação dos estudantes, que há 88 anos lutam para um Brasil melhor, "vamos construir o País com a autodeterminação dos povos e somos nós que defendemos nosso futuro. Vamos defender os trabalhadores e trabalhadoras que realmente constroem esse País. Conte com os estudantes na rua para defender o povo brasileiro", finalizou. 

 

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Lula: "não tem nada mais ignorante do que se dizer que não se é político; somos políticos desde o dia que nascemos"

 

 

 

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Estudantes lotaram o Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, da UFG

 

 

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Um minuto de barulho: vítimas do acidente com micro-ônibus da UFPA foram homenageadas

 

 

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Primeira-dama, Janja Lula da Silva, também participou do evento

 

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Confira a transmissão completa do evento

Homenagens marcam abertura do 60º Congresso da UNE

Nota Oficial

 

 

Fonte: Secom/UFG

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