
Repelência de carrapatos por compostos botânicos e químicos é tema do último Brainstorm de Ciência do semestre
A médica veterinária Mayara Macêdo Barrozo abordou estratégias sustentáveis no combate ao vetor Amblyomma sculptum
Texto e fotos: Maria Eduarda Silva
Na última edição do Brainstorm de Ciência deste semestre, o tema da palestra foi “Compostos botânicos e químicos na repelência e controle de Amblyomma sculptum”, ministrada por Mayara Macêdo Barrozo, médica veterinária e mestre e doutora em Ciência Animal pela UFG.
O A. sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela, tem como hospedeiros preferenciais capivaras, equinos e antas, mas, devido à sua baixa especificidade parasitária, pode parasitar outros animais, incluindo humanos. A relevância da pesquisa se dá justamente pela contribuição à saúde pública, uma vez que o carrapato é vetor da bactéria Rickettsia rickettsii, agente etiológico da Febre Maculosa Brasileira (FMB).
A doença, potencialmente grave e letal para humanos, apresentou picos nos registros de casos confirmados da doença, principalmente no ano de 2024, quando foram totalizados 370 casos. A ocorrência dos casos ocorreu mais intensamente no período entre os meses de julho e outubro, época do ano com maiores quantidades de ninfas desse carrapato no ambiente.
Diante disso, o principal método de prevenção de picadas em humanos é o uso de repelentes para insetos, principalmente através da ação do composto DEET, que interfere nos receptores sensoriais dos invasores e dificulta a localização de potenciais vítimas. Nesse sentido, diversos compostos botânicos, como os óleos essenciais, ou composições à base de plantas, vêm sendo estudados na busca de novos ativos repelentes.
A pesquisadora comenta que realizou um levantamento em relação aos repelentes comerciais disponíveis no mercado nacional, em parceria com a Organização Pan - Americana da Saúde (OPAS), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram avaliados os principais repelentes contra insetos disponíveis no mercado (não existem repelentes específicos contra carrapatos) em testes de laboratório e em campo.
Foi observado que o repelente da marca Off apresentou os melhores resultados, atingindo 100% de repelência. Em sua composição, além de apresentar o DEET, também apresentava óleos essenciais e compostos derivados de óleos essenciais, como é o caso do óleo essencial da laranja, citronelal, geraniol, linalol e salicilato de benzila. Estudos anteriormente realizados já demonstraram que a associação da molécula DEET com óleos essenciais e derivados aumentam a duração da eficácia do produto contra o mosquito Aedes Aegypti.
No mesmo estudo, foram realizados testes com voluntários, em que avaliaram o DEET isolado e em associação com um composto botânico, e da associação de um óleo essencial com outro composto botânico. Os compostos botânicos apresentaram 100% de proteção durante o período analisado (2 horas), e a associação do composto com o DEET também apresentou alta eficácia - foram coletados apenas três carrapatos.
Os estudos citados demonstram como compostos naturais podem ser úteis na repelência de insetos e carrapatos, frente aos possíveis impactos negativos causados pelos repelentes químicos, como contaminação de corpos d’água e acúmulo em tecidos animais, podendo afetar a cadeia alimentar e trazendo consequências a longo prazo, além de outras consequências para a saúde humana.
A pesquisadora também apresentou outras pesquisas desenvolvidas em relação ao tema, como a sua própria dissertação de mestrado. A pesquisa é intitulada “Atividade repelente e carrapaticida de compostos derivados do óleo de coco contra A. sculptum" e foi orientada pela professora Lígia Miranda Ferreira Borges, professora da Universidade Federal de Goiás.
Nela, Mayara observou a eficácia de substâncias derivadas de ácidos graxos de coco e outras substâncias em associação com óleo de lavanda, e todos os compostos submetidos a testes apresentaram 24h de repelência, chegando a até sete dias de efeito. A palestra discutiu outras pesquisas na área e ressaltou a importância no desenvolvimento de repelentes naturais sustentáveis, com impactos reduzidos ao meio ambiente e à saúde humana.
O Brainstorm de Ciência é um evento organizado pela coordenação de pesquisa do IPTSP, que ocorre às quartas - feiras a cada duas semanas, com o objetivo de promover o debate científico entre discentes, docentes e a comunidade em geral.
Esta foi a última edição do semestre, mas retorna no próximo para mais atividades.
Para apresentar seu trabalho nas próximas edições, não deixe de entrar em contato com os coordenadores de pesquisa:
Profª Ludmilla Baltazar - ludmilabaltazar@ufg.br
Prof. Juscelino Rodrigues - juscelinorf@ufg.br
Participantes dos programas de pós - graduação (PPGBRPH e PPGMTSP) podem usar o evento como crédito na disciplina Brainstorm de Ciência. Os estudantes de graduação da UFG também recebem certificado de participação!
*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.
Source: Comissão de Comunicação IPTSP