
5ª edição do Brainstorm de Ciência discute variedade endofítica em biomas brasileiros
A pesquisadora Layanne de Oliveira apresentou pesquisas desenvolvidas sobre diversidade de microrganismos endofíticos presentes em biomas como o Cerrado e a Caatinga
Texto e fotos: Maria Eduarda Silva
A última edição do evento institucional Brainstorm de Ciência, no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) aconteceu na última quarta - feira (11), e teve como tema “O que ninguém vê: a grande diversidade endofítica em plantas de biomas brasileiros”, por Dra. Layanne de Oliveira Ferro (UFPE).
A pesquisadora é biomédica, pelo Centro Universitário CESMAC, mestre e doutora em Biologia de Fungos, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde se encontra o único programa exclusivo em estudo de fungos na América Latina. O professor Jadson D.P. Bezerra, do setor de Microbiologia do IPTSP, foi seu coorientador durante o mestrado e o doutorado. Atualmente, Layanne é pesquisadora de pós - doutorado júnior, na modalidade PDJ do CNPQ.
Durante a palestra, ela explica que fungos endofíticos são aqueles que vivem pelo menos uma parte do seu ciclo de vida no interior de vegetais, sem causar danos aparentes. Na biotecnologia, possuem uma ampla utilização, de acordo com os metabólitos que produzem: podem ser empregados em inúmeros setores da indústria, em cosméticos, alimentos, tratamento de esgoto, agricultura e outros.
Existem duas hipóteses para explicar a interação fungo x planta. Uma delas é a da simbiose mutualística, ou seja, as duas espécies convivem “amigavelmente”, se beneficiando mutuamente. Mas, a mais aceita é a de equilíbrio antagônico, isto é, os dois organismos diferentes secretam metabólitos tóxicos, mas conseguem entrar em equilíbrio. Nesse caso, existe o equilíbrio entre a defesa do hospedeiro, da planta, e a virulência fúngica, causando uma relação endofítica.
Caso essa relação seja perturbada por algum fator externo, pode haver um desequilíbrio e uma interação patogênica. A palestrante explica que um mesmo fungo considerado endofítico pode ser também um fungo patogênico, a depender das interações com as quais estão envolvidos.
Layanne ressalta uma evolução na interação genética entre a planta e o fungo, bastante útil para o estudo dos fungos endofíticos:
“Sugere-se que, ao longo da evolução do tempo, ocorreu a recombinação genética entre o microorganismo, o fungo endofítico, e o seu hospedeiro. O fungo passou a se adaptar gradativamente ao microbioma a partir de uma possível variação genética”, explica.

Essa possibilidade de herança dos mesmos genes das plantas pode ser responsável pela alta capacidade tecnológica que os fungos apresentam, associados com a produção dos mesmos compostos que os vegetais. Muitos fungos endofíticos utilizados na biotecnologia, por exemplo, são fungos de plantas medicinais, justamente pelo tipo de compostos que produzem.
Metodologia
Em relação aos métodos de estudo de fungos endofíticos, a metodologia existente é antiga, mas foi adaptada pelo professor Jadson Bezerra, que começou a estudar os fungos endofíticos na UFPE, com cactos na Caatinga. Antes da coleta, são realizados o estudo e planejamento do local, de indivíduos e de fragmentos. A coleta é realizada e levada ao laboratório, onde o isolamento deve ser realizado em até 48 horas. Para isso, é feita uma breve assepsia com álcool e hipoclorito por tempos determinados, e, ao final, são feitas três lavagens de água destilada.

O próximo passo é a fragmentação do material vegetal, que pode ser feita antes ou após a assepsia. O material fragmentado é colocado em uma placa de Petri, sendo divididos 7 fragmentos por placa e 9 placas por indivíduo (planta). Logo, cada indivíduo é dividido em 63 fragmentos (quantidade padronizada pelo grupo de pesquisa).
As placas são mantidas por em média por 15 dias, a depender do crescimento dos fungos. Após esse processo, é feita a quantificação da taxa de crescimento e a purificação em placas ou tubos para, posteriormente, identificar por morfologia e biologia molecular.

Pesquisas
Estima-se que existam, no mundo, cerca de 2,5 a 3 milhões de fungos, e nem 10% dessa riqueza foi explorada ainda. No Brasil, as zonas temperadas são um grande hotspot de biodiversidade, além de possuir a maior diversidade botânica do mundo. De acordo um levantamento realizado em 2019, pelo professor Jadson Bezerra, o gênero de fungo endofítico mais descrito até então é o Diaporthe, muito frequente no isolamento endofítico. Ao falar sobre as pesquisas nas quais está envolvida desde o mestrado, Layanne conta que a coleção de fungos que estuda está em diversas plantas de três biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
“O primeiro que estudei foi durante o mestrado, na Mata Atlântica. Depois, desenvolvi meu doutorado na Caatinga e no Cerrado e atualmente colaboro com outros projetos de fungos endofíticos de outras plantas do Cerrado”, conta a pesquisadora.
Ela descreve as inúmeras pesquisas realizadas nesses biomas brasileiros, incluindo o fungo que descreveu pela primeira vez, Penicillium alagoense, isolado em uma reserva de Alagoas, estado em que a pesquisadora nasceu. Atualmente, ela está desenvolvendo pesquisas com o gênero Diaporthe, com estudos voltados para taxonomia, reconstrução filogenética, análises ecológicas e aplicações biotecnológicas. Ao longo da palestra, descreveu as pesquisas nas quais está envolvida com o gênero Diaporthe, além de descrever outras atividades relacionadas à fungos endofíticos durante a sua trajetória acadêmica.
A pesquisadora encerrou a fala agradecendo à UFG, ao LabMicol, laboratório de micologia do IPTSP, ao próprio IPTSP e ao projeto Fungos do Cerrado, projeto desenvolvido pelo professor Jadson Bezerra e alunos. Após a palestra, os estudantes e professores presentes tiraram dúvidas, fizeram perguntas e teceram comentários sobre a apresentação, que englobam temas como mudanças climáticas e ambientais, estratégias e metodologias de análises de fungos endofíticos e muito mais.
O Brainstorm de Ciência é um evento, organizado pela coordenação de pesquisa do IPTSP, que ocorre a cada duas semanas no IPTSP, com o objetivo de promover o debate científico entre discentes, docentes e a comunidade no geral.
Não deixe de participar! O próximo encontro está marcado para o dia 25/06, às 16h na Sala Multimídia do IPTSP.
Quer apresentar seu trabalho nas próximas edições?
Entre em contato com os coordenadores de pesquisa:
Profa. Ludmilla Baltazar – ludmilabaltazar@ufg.br
Prof. Juscelino Rodrigues – juscelinorf@ufg.br
Participantes dos programas de pós-graduação (PPGBRPH e PPGMTSP) podem usar o evento como crédito na disciplina Brainstorm de Ciência.
Estudantes de graduação da UFG também recebem certificado de participação!
*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.
Fonte: Comissão de Comunicação do IPTSP
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