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Simpósio de Imunidade e Doenças neurodegenerativas reúne pesquisadores, especialistas e discentes da área

Em 03/06/25 11:57. Atualizada em 03/06/25 11:58.

O evento contou com palestras e uma roda de conversa a respeito de doenças neurodegenerativas 

Texto e fotos: Maria Eduarda Silva 


No final da quinzena de abril, a sala multimídia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) recebeu pesquisadores e especialistas para abordarem sobre Imunidade e Doenças Neurodegenerativas. O evento aconteceu durante o Dia Internacional da Imunologia e da Semana Mundial das Imunodeficiências Primárias. O encontro foi coordenado pela profa. Simone Gonçalves da Fonseca, coordenadora do Laboratório de Imunorregulação do IPTSP/UFG, representante da Sociedade Brasileira de Imunologia. 

A programação contou com duas palestras, da Profa. Fátima Ribeiro Dias e do Prof. Helioswilton Sales de Campos e, uma roda de conversa com os palestrantes e com o Dr. Delson José da Silva, médico neurologista, coordenador do Núcleo de Neurociências do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFG e presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). 

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Da esquerda para a direita - Prof. Helioswilton Sales de Campos, Dr. Delson José da Silva e Profa. Fátima Ribeiro Dias

 

A primeira palestra foi ministrada pela professora Fátima, do setor de Imunologia do DEBIOTEC e coordenadora do Laboratório de Imunidade Natural (LIN) do IPTSP. Com o tema "Neuroinflamação na Doença de Parkinson: Toll-like Receptors", a professora explicou a relevância da imunidade inata nas doenças neurodegenerativas e apresentou os dados publicados pelo seu grupo em Doença de Parkinson. 

De acordo com ela, as doenças degenerativas mais comuns são a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, as quais, normalmente, acometem pessoas idosas, a partir dos 60 anos. Nesta doença, há um processo de inflamação no sistema nervoso central, a neuroinflamação, associada à degeneração dos neurônios. 

A palestra da professora foi voltada para a explicação de como os toll - like receptors (TLRs), proteínas que reconhecem padrões moleculares associados a microrganismos (MAMPs) ou a danos celulares (DAMPs), podem desencadear respostas inflamatórias em pacientes com a doença de Parkinson. 

Os resultados apresentados sugerem que o TLR10 seria um receptor responsável por inibir a resposta de ativação do TLR2, o qual reconhece a alfa-sinucléina alterada, proteína envolvida na neuroinflamação, e estimula a produção de citocinas pró - inflamatórias. A presença do TLR10 está, portanto, associada a uma menor gravidade da doença, por exercer um papel de controle de respostas inflamatórias. O grupo deve estudar, agora, como alterações genéticas neste receptor podem impactar na progressão da doença. 

A segunda palestra foi proferida pelo professor Helioswilton, doutor em Biociências e Biotecnologia e coordenador do Laboratório de Imunologia de Mucosas e Imunoinformática (LIMIM) do IPTSP. Com o tema “O papel dos receptores TREM no desenvolvimento da doença de Parkinson”, o professor destacou que, atualmente, a doença de Parkinson ainda é a segunda doença degenerativa mais relevante no mundo, mas projeções sugerem que, em breve, ela se tornará a principal, fator que corrobora para a importância de estudos sobre esta doença. 

O professor destacou que, durante muito tempo, os genes ligados ao Parkinson eram considerados os únicos responsáveis pela doença, porém, outros elementos, como os fatores ambientais, parecem ter maior potencial de influenciar seu desenvolvimento da doença de Parkinson. A exposição a alguns poluentes e pesticidas, por exemplo, possuem uma relação direta com o aparecimento da condição, além de outros aspectos como estilo de vida e alimentação. 

De acordo com o professor, as células do sistema imunológico são as principais contribuidoras e alimentadoras do processo inflamatório, o que incita o estudo dos membros da família de receptores TREM, receptores de gatilho presentes em células mielóides. Estes receptores são proteínas de superfície celular que estão envolvidos em uma variedade de processos, como doenças neurodegenerativas, resposta contra microrganismos, inflamação, entre outros. 

Dentre os diferentes membros dessa família, destacam-se o TREM1 e o TREM2. O TREM 1 é responsável, por produzir citocinas inflamatórias na micróglia - célula do sistema nervoso central que atua na manutenção da imunidade e da saúde do cérebro -, de recrutar mais células para este sítio, o que acarreta no agravamento do processo inflamatório. Já o TREM 2 possui várias funções fisiológicas importantes, incluindo aquelas associadas à proteção do sistema nervoso central. Em doenças neurodegenerativas, essas funções são comprometidas e existe uma alteração importante no funcionamento/atividade da micróglia, passando para um perfil conhecido como micróglia associado à doença. 

A pesquisa, que ainda está em desenvolvimento, combina estratégias computacionais (transcriptômica) com a utilização de células neuronais in vitro e animais  para induzir de modo experimental a doença de Parkinson (camundongos). Nos camundongos, são analisados o intestino e o cérebro, principalmente em relação à presença de alfa-sinucleína, proteína neural associada à doença de Parkinson, e o cérebro, que também é avaliado em relação à presença de alfa-sinucleína e expressão dos receptores da família TREM, além de outros marcadores inflamatórios. 

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O trabalho apresenta alguns desafios a serem enfrentados, mas as atividades de pesquisa continuam sendo realizadas, a fim de entender de que forma os TREM 1 e 2 atuam no desenvolvimento da doença. O evento foi encerrado com uma roda de conversa com os palestrantes e com o Dr. Delson. Neste momento, o público pôde tirar dúvidas relacionadas às palestras e também aspectos gerais relacionados a doenças degenerativas. Dr. Delson esclareceu dúvidas relacionadas à identificação do início da doença de Alzheimer, como quando o esquecimento de fatos cotidianos começa a interferir na vida do indivíduo. Com ele, foram discutidos aspectos importantes sobre o papel da prática de exercícios físicos e hábitos alimentares na prevenção das doenças neurodegenerativas de Parkinson e Alzheimer. 

“Quem faz exercício físico estimula a mente o tempo todo. O que não pode, de jeito nenhum, é deixar a pessoa ficar o dia inteiro na televisão, porque aquilo é uma mensagem pré - concebida, a pessoa não exercita o pensamento crítico, ela não cria nada, é uma atividade muito passiva. O ideal é fazer exercícios físicos e atividades cognitivas e manuais como artesanato, crochê, etc…”.

Durante a conversa, outras questões relacionadas à temática foram discutidas, com o compartilhamento de ideias, conhecimentos e dúvidas em relação às doenças degenerativas, mitos e verdades. O Simpósio foi marcado pela presença ativa de estudantes e pesquisadores que promoveram o debate sobre a ciência e a pesquisa em neuroimunologia. 

*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.

Fonte: Comissão de Comunicação do IPTSP

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