
4º Encontro Científico do Gepesfe é marcado por palestras sobre a demência na velhice
Com o tema “Demências: perspectivas e intervenções”, o encontro reuniu pesquisadores da área que trataram a respeito da doença durante o envelhecimento
Texto e fotos: Maria Eduarda Silva
Na última sexta - feira (11), o auditório do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) recebeu palestrantes das áreas de Geriatria, Gerontologia e Fisioterapia para o 4º Encontro Científico do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Saúde Funcional e Envelhecimento (Gepesfe). O evento foi mediado pela professora Ruth Losada, líder do grupo, e teve como tema principal de debate “Demências: perspectivas e intervenções”.
A primeira palestrante foi de Juliana Junqueira Marques Teixeira, médica, especialista em Clínica Médica e Geriatria e doutoranda em Ciências da Saúde pela UFG. Durante sua apresentação, intitulada “Declínio cognitivo no envelhecimento: muito além das demências”, a profissional trouxe um olhar profundo sobre o declínio cognitivo em pessoas idosas, como é possível identificar um declínio cognitivo normal do patológico e de que forma é possível preveni-lo.
Por definição, o declínio cognitivo ocorre quando há a perda de capacidade de realizar tarefas cotidianas, processo natural durante o processo de envelhecimento. No entanto, Juliana destaca que, quando essa perda é repentina, e não gradual, isso pode indicar um sintoma do declínio cognitivo patológico.
Ela também destacou a importância da valorização da memória dos pacientes, que acumulam conhecimento durante a vida:
“Essa tendência de olhar o envelhecimento como perda faz com que esqueçamos questões como a inteligência cristalizada…No Brasil, é normal vermos a perda de autonomia no envelhecimento como normal”.
Além disso, ao falar sobre o cuidado com os pacientes, Juliana destaca que as políticas públicas devem visar o cuidado desde a juventude, para que as pessoas consigam alcançar a longevidade com plenitude, além de defender um tratamento individualizado.
“Os cuidados com os pacientes devem levar em consideração sua individualidade, deve ser um cuidado direcionado e personalizado”, afirma.
O enfoque no cuidado personalizado para os pacientes também foi ressaltado durante a segunda palestra, ministrada por Cristiane de Almeida Nagata, fisioterapeuta, especialista em Gerontologia e doutora em Educação Física pela UnB. Durante a aula, denominada “Avaliação físico-funcional da pessoa idosa com demência”, ela destacou que o cuidado com idosos com demência deve ser personalizado de acordo com as suas particularidades e subjetividades.
E, para isso, são realizadas perguntas e questionamentos para entender melhor as necessidades e o histórico do paciente, como “O que mais te incomoda neste momento? Quais atividades consegue fazer, mas gostaria de melhorar? Quais seus hobbies e atividades de lazer? Você consegue fazer todos?”.
Além disso, durante a avaliação físico - funcional, são realizados testes para mensurar as condições dos pacientes, como testes de equilíbrio, testes de velocidade e testes de força e resistência.
“Esses testes nos orientam para as condições nas quais esse idoso se encontra, e, assim, ele pode ter um tratamento mais assertivo e direcionado”, explica.
A fisioterapeuta também ressalta que a avaliação de idosos com demência pode ser desafiador, e que o processo requer algumas habilidades:
“É um processo que exige técnica, sensibilidade, escuta ativa e a capacidade de acolher e orientar cuidadores e familiares, que são peças fundamentais nesse processo. Requer também raciocínio clínico para escolher a avaliação mais adequada para cada caso”.
A apresentação de Hudson Azevedo Pinheiro, intitulada “Abordagem fisioterapêutica na pessoa com demência” também trouxe outras perspectivas em relação ao cuidado fisioterapêutico com pessoas idosas. O fisioterapeuta, especialista em Gerontologia, destacou a importância da prática de exercícios na vida de pessoas idosas com demência, uma vez que a prática recorrente melhora fatores como a cognição e a memória, além de diminuir a intensidade das dores e aumentar sua força.
“É preciso investir na prática de exercícios para os nossos pacientes. Quanto mais conseguirmos manter essas pessoas fazendo exercícios físicos, melhor. Infelizmente muitos idosos possuem baixa renda e têm dificuldade de acessar essas atividades”, explica.
Ele ainda ressalta que, apesar da importância da autonomia em pessoas idosas, é importante que a família esteja sempre presente.
“O fortalecimento físico diminui o declínio cognitivo, mas também aumenta a força, e eles podem acabar se locomovendo sozinhos, mas talvez não tenham autonomia suficiente. Por isso, é importante que o cuidado com a família não seja esquecido. O cuidado com o indivíduo não pode ser separado do cuidado com a família”.
A primeira etapa do evento, marcada pelas palestras dos convidados, foi finalizada com a apresentação de Camila Carminato, com o tema “Abordagem da Terapia Ocupacional na pessoa com demência”. Camila é terapeuta ocupacional e especializada em Gerontologia, e explicou de que forma a terapia ocupacional pode ser utilizada no tratamento de pessoas idosas com demência.
Assim como os outros palestrantes, ela destacou a importância de um tratamento individualizado e humanizado para cada paciente:
“Temos que ter um olhar sensível, cuidadoso e atencioso durante a avaliação. É necessário estabelecer um vínculo com o paciente. Se ele já estiver em estágio moderado ou avançado, é necessário conhecê-lo, mesmo que através de outras pessoas da sua família”.
Camila ressalta que, durante o processo de avaliação, toda a família do paciente participa, para que ela o conheça em profundidade. Além disso, os acompanha em eventos cotidianos, como cinema, consulta médica e outros eventos rotineiros.
Ela também compartilhou a importância da terapia ocupacional para idosos com demência, uma ferramenta importante para que vivam com protagonismo.
“Essas pessoas precisam viver de forma digna, respeitosa e harmoniosa, sendo as protagonistas das suas próprias histórias. É por isso que é preciso pensar na multidisciplinaridade, e não apenas na terapia ocupacional”, comenta.
Ao final de todas as palestras, os especialistas se reuniram novamente em uma roda de conversa, para continuar o debate e responder perguntas do público. Esse momento foi mediado pela professora Ruth Losada, que destacou o processo de formação acadêmica como um fator importante para a mudança do atual cenário da doença.
Durante a roda de conversa, foram discutidos temas já levantados anteriormente, como a importância do papel da família, da rotina e da vida social dos pacientes. Além disso, a interdisciplinaridade foi novamente apontada como indispensável para o tratamento de idosos com demência.
Ao comentar sobre a importância dos vínculos sociais dos pacientes, Camila destacou que os profissionais também exercem um papel importante:
“Nós como profissionais também somos uma espécie de rede de apoio para os pacientes, junto com os familiares”.
*Maria Eduarda Silva é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.
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