
Pesquisa revela alta prevalência de HPV em mulheres transgêneras em Goiânia
Resultados mostram a necessidade de políticas públicas de saúde voltadas à prevenção e tratamento de ISTs e cânceres associados em populações de alto risco
Texto: Marina Sousa
Um estudo pioneiro sobre a incidência do papilomavírus humano (HPV) entre mulheres transgêneras na cidade de Goiânia (GO) trouxe à tona dados alarmantes sobre os riscos dessa população em relação às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A pesquisa avaliou a presença de HPV em três regiões anatômicas — anal, genital e oral — entre abril de 2018 e agosto de 2019, além de identificar fatores comportamentais e genotípicos associados à infecção.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS) o HPV é responsável pela infecção sexualmente transmissível mais frequente no mundo. Ele está associado ao desenvolvimento da quase totalidade dos cânceres de colo de útero, bem como a diversos outros tumores em homens e mulheres. Além disso, a doença pode provocar verrugas anogenitais (região genital e no ânus), a depender do tipo de vírus.
Os resultados da pesquisa, realizada com 268 participantes, revelaram que 77,2% apresentaram HPV na região anal, 33,5% na região genital e 10,9% na região oral. Entre os genótipos analisados, o HPV-52 foi o mais prevalente nas regiões anal (66,6%) e genital (40%), enquanto os genótipos HPV-62 e HPV-66 predominaram na região oral (25% cada).

“Esses dados destacam a importância de estudos epidemiológicos adicionais para subsidiar o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento direcionadas a essa população específica”, afirmou a vice-diretora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), Megmar Aparecida dos Santos Carneiro. A pesquisadora também integra o Núcleo de Estudos em Epidemiologia e Cuidados em Doenças Transmissíveis e Agravos à Saúde Humana (NECAIH), da Faculdade de Enfermagem (FEN/UFG), que liderou o estudo.
De acordo com os pesquisadores, o estudo foi direcionado às mulheres transgêneras devido à sua maior vulnerabilidade à aquisição de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A pesquisa também reforça a importância de compreender a epidemiologia do HPV em populações vulneráveis, com o objetivo de aprimorar estratégias de prevenção e triagem para HPV e outras ISTs.
Outro aspecto destacado foi a necessidade de ampliar o acesso aos serviços de saúde para essa população, que frequentemente enfrenta barreiras relacionadas à discriminação e ao estigma. Melhorar esse acesso pode facilitar tanto a triagem quanto o tratamento de ISTs, incluindo o HPV.
A vacinação contra o HPV foi fortemente recomendada no estudo, destacando-se que a escolha entre vacinas de diferentes valências — 2-valente, 4-valente e 9-valente — deve considerar a caracterização dos genótipos predominantes de HPV na população-alvo. “Essa abordagem pode ajudar a maximizar a eficácia da vacinação e oferecer maior proteção contra tipos de HPV de alto risco”, explicou a docente.
Apresentação na 36ª Conferência Internacional do Papilomavírus
Entre os dias 12 e 15 de novembro, a professora Megmar Aparecida Carneiro representou a Universidade Federal de Goiás (UFG) na 36ª Conferência Internacional do Papilomavírus (IPVC), em Edimburgo, Escócia. O evento reuniu pesquisadores de todo o mundo para discutir avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento do HPV e doenças relacionadas. Durante o congresso, Megmar apresentou a pesquisa intitulada "Human Papillomavirus Positivity at 3 Anatomical Sites Among Transgender Women in Central Brazil", destacando os achados do estudo e sua relevância no contexto global de saúde pública. O estudo foi publicado no periódico "Sexually Transmitted Diseases" da American Sexually Transmitted Diseases Association (ASTDA). Esta associação é dedicada à pesquisa, educação e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

(Foto: arquivo pessoal)
Parceria
A pesquisa foi financiada pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS) por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) e o Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE) do Ministério da Saúde. Além disso, há a colaboração dos seguintes pesquisadores: Brunna Rodrigues de Oliveira e Bruno Vinícius Diniz e Silva do IPTSP; Kamila Cardoso Dos Santos, Karlla Antonieta Amorim Caetano e Sheila Araujo Teles da FEN/UFG; Sílvia Helena Rabelo-Santos da Faculdade de Farmácia (FF/UFG); Vera Aparecida Saddi da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Giana Mota do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP); Luísa Lina Villa, da Faculdade de Medicina FM/USP; Krishna Vaddiparti e Robert L Cook do Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública e Profissões da Saúde e Faculdade de Medicina, Universidade da Flórida (EUA).
Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP
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