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Estudo revela nova interação entre o causador da poliomielite, o Poliovírus, e receptores celulares TREM

On 10/16/24 10:39 . Updated at 10/16/24 11:13 .

Abordagem pode oferecer pistas para novas terapias

Texto: Marina Sousa

O mestrando Daniel Francisco de Sousa, do Programa de Pós-graduação em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (PPGBRPH) do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG), está conduzindo uma pesquisa inovadora sobre a poliomielite. Orientado pelo professor Helioswilton Sales de Campos e coorientado pela professora Marcelle Silva Sales, do Departamento de Biociências e Tecnologia (DEBIOTEC) – Imunologia/Microbiologia, Daniel investiga a interação entre o poliovírus (PV), causador da doença, e os receptores celulares TREM-1 e TREM-2. Utilizando simulações computacionais, o estudo sugere uma ligação entre o vírus e esses receptores, o que pode expandir o conhecimento sobre a interação vírus-hospedeiro e abrir novas possibilidades para o tratamento da poliomielite.

Embora a poliomielite tenha sido controlada em muitas regiões, incluindo o Brasil, a queda nas taxas de vacinação representa um risco para a reemergência dessa doença grave, que pode causar paralisia flácida aguda em casos severos.

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O mestrando, Daniel Francisco de Sousa desenvolve a pesquisa no Laboratório de Imunologia de Mucosas e Imunoinformática (LIMIM), coordenado pelo docente Helioswilton Sales de Campos (Foto: Arquivo Pessoal)


Descobertas sobre os receptores TREM

Os receptores TREM-1 e TREM-2, que têm sido associados a doenças infecciosas e neurodegenerativas, respectivamente, já foram explorados na infecção por outros enterovírus, no entanto, nunca haviam sido explorados na infecção pelo poliovírus. 

Os resultados deste estudo indicam que ambos os receptores desempenham um papel crucial na interação com o vírus. De acordo com Daniel Francisco de Sousa, a proteína viral VP1 do poliovírus foi identificada como o principal alvo dos receptores. As regiões CDR3 de TREM-1 e CDR1 e CDR2 de TREM-2 foram destacadas como as mais envolvidas nas interações com o vírus. Curiosamente, essas interações apresentaram uma afinidade maior pela proteína viral do que a observada no receptor CD155, conhecido por sua função na entrada do poliovírus nas células. Reforçando, portanto, a importância dos receptores da família TREM na poliomielite e sugerindo um potencial superior de interação com o vírus do que o já observado na interação com o CD155.

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Simulação computacional da cadeia do aminoácido arginina, que está na posição 70 (ARG (70)) da proteína viral VP1, se conecta fortemente aos receptores TREM-1 e TREM-2, usando fortes ligações chamadas pontes de hidrogênio que sugere efeito promissor no controle da doença (Ilustração: Daniel Francisco de Sousa)

 

De forma mais específica, os diferentes receptores reconhecem um aminoácido específico que compõe a VP1, sugerindo assim, que terapias que tenham essa molécula como alvo, possam ter efeito promissor no controle da infecção pelo poliovírus. Quando mutações foram induzidas em TREM-1 e TREM-2, o reconhecimento viral foi comprometido, reforçando a importância desses receptores nesse processo e, consequentemente, no desenvolvimento da poliomielite.

Contexto de risco e justificativas

Os pesquisadores alertam que a diminuição da cobertura vacinal contra a poliomielite no Brasil vem caindo drasticamente. Segundo dados do Ministério da Saúde no Brasil, a doença está erradicada desde 1990, porém sua cobertura vacinal está abaixo da meta de 95% desde 2016, aumentando o risco de retorno da circulação do vírus que afeta principalmente as crianças. “Fatores ambientais como as enchentes no Rio Grande do Sul, podem aumentar o risco de circulação do poliovírus, nesse sentido, a falta de saneamento, más condições habitacionais e situações de calamidade pública, como a observada no Sul do país, podem contribuir para o contágio já que poliomielite acontece por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral, por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores”, explica o docente do IPTSP, Helioswilton Sales de Campos. Apesar do controle global, o poliovírus não foi completamente erradicado. O estudo justifica a necessidade de se explorar novas terapias que possam controlar sua disseminação, uma vez que o vírus tem uma alta capacidade de alcançar o sistema nervoso central, causando paralisia nos neurônios motores e a vacinação é a única forma de prevenção da poliomielite.

Implicações futuras

Embora o estudo tenha sido realizado por meio de simulações utilizando computadores, as descobertas sugerem que os receptores TREM-1 e TREM-2 podem desempenhar um papel relevante na infecção viral, promovendo respostas inflamatórias exacerbadas associadas aos piores quadros da doença. Devido à complexidade de manipular o poliovírus em experimentos laboratoriais, as simulações computacionais se mostraram uma ferramenta importante para compreender essas interações. O estudo encontra-se em fase de submissão para uma revista científica internacional e deverá ser publicado em breve onde serão apresentados maiores detalhes.

Os autores do estudo esperam que os resultados sirvam como base para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas e que mais pesquisas possam elucidar os mecanismos biológicos por trás dessas interações, especialmente no que diz respeito à entrada do poliovírus no sistema nervoso central.

“Essas descobertas são um passo importante para o avanço na luta contra a poliomielite e outras doenças virais relacionadas, além de ampliar nosso conhecimento sobre o comportamento dos enterovírus”, explica Daniel Francisco de Sousa.

 

Source: Comissão de Comunicação IPTSP

Categories: Notícias Laboratório de Imunologia de Mucosas e Imunoinformática (LIMIM/IPTSP)