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Fiocruz Brasília debate os desafios da divulgação científica em tempos de desinformação

Em 26/08/24 10:29. Atualizada em 26/08/24 10:32.

2ª Semana de Divulgação Científica reúne especialistas para discutir o fortalecimento da comunicação científica, políticas públicas e o combate ao negacionismo no Brasil

Texto: Marina Sousa 

Fotos: Sergio Velho Junior - Fiocruz Brasília 

 

Entre os dias 13 e 15 de agosto, a Fiocruz Brasília realizou a 2ª Semana de Divulgação Científica, reunindo pesquisadores, professores, comunicadores, profissionais da saúde e da educação básica. O evento foi uma imersão voltada para o fortalecimento da divulgação científica, o incentivo a políticas públicas na área e os desafios enfrentados no combate à desinformação em tempos de negacionismo.

Mesa de abertura 2ª Semana de Divulgação Científica
Mesa de abertura 2ª Semana de Divulgação Científica

 

A programação incluiu mesas temáticas com especialistas da Fiocruz e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), representados pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Diretoria de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica, e a Coordenação de Divulgação Científica da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz). A jornalista Marina Sousa, bolsista do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Avaliação de Tecnologia em Saúde (INCT IATS) e membro do projeto de extensão  do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) intitulado de IPTSP Comunica, representou os institutos no evento e compartilha, a seguir, alguns insights relevantes. 

Durante a conferência de abertura, intitulada “Divulgação Científica e Políticas Públicas no Brasil”, Juana Nunes, diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI, abordou a missão da sua secretaria, que é disseminar conhecimento para todos, independentemente de sua trajetória, para que todos possam se identificar com a ciência.

“As meninas devem ter o direito de sonhar em ser cientistas, assim como de seguir outras carreiras, como dança ou esportes, sem deixar de ter acesso a uma educação científica básica. Esse conhecimento é crucial para que possam discernir entre fatos e desinformação”, destacou Nunes. Ela também ressaltou que a educação científica deve alcançar todos os setores da sociedade, incluindo os mais vulneráveis, e se conectar com áreas como desenvolvimento social, educação e cultura. “A ciência deve ser vista como um direito, acessível ao longo da vida. Pessoas que não tiveram acesso à educação formal devem ter oportunidades de aprender e participar de atividades científicas em qualquer fase da vida, seja por meio de museus, feiras de ciência, ou iniciativas como o ‘Caça Asteroides’”, disse. A gestora também falou sobre uma parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), que estão trabalhando no desenvolvimento de uma plataforma online de georreferenciamento das iniciativas de popularização da ciência pelo Brasil, e ainda sobre o Projeto Mais Ciência na Escola, que vai financiar atividades de popularização da ciência nas escolas de todo o país.

Em tempos de fake news

Na mesa sobre “Divulgação Científica em Tempos de Negacionismo”, a professora e pesquisadora Raquel Recuero, do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), abordou a enxurrada de informações sobre saúde pública durante a pandemia de Covid-19, que se infiltrou em grupos antivacinas, propagando desinformação por todo o Brasil. Recuero explicou que narrativas falsas se espalharam rapidamente por diversas plataformas, levando pessoas a acreditar em teorias desprovidas de base científica. Segundo ela, essa desinformação atingiu não apenas questões de saúde, como a eficácia das vacinas, mas também se estendeu a temas como política e religião. “A propagação é intensificada pelas redes sociais, onde conteúdos sem responsabilização são amplamente consumidos. Essas narrativas se consolidam em espaços onde a ciência não é bem compreendida. Muitas pessoas desconhecem como as vacinas são desenvolvidas ou como funciona o processo científico, o que facilita a disseminação de desinformação. Quando figuras públicas falecem subitamente, especulações sobre vacinas surgem, alimentando ainda mais essas teorias”, relatou a pesquisadora.

A professora Graça Caldas, do Labjor/Unicamp, também participante da mesa, destacou a importância de garantir que a divulgação das informações seja correta, mas reforçou que essa comunicação precisa ser feita de forma clara e acessível. Encerrando a discussão, o pesquisador Wilson da Costa Bueno, professor sênior da USP e referência no jornalismo científico, sublinhou a necessidade de enfrentar a desinformação que desafia as evidências científicas. Ele ressaltou que a desinformação não é promovida apenas por indivíduos mal informados, mas por grupos organizados, incluindo governos e empresas, que atuam em várias áreas, como vacinas e medicamentos. Bueno mencionou a contribuição de diversos estudiosos e instituições no combate à desinformação, como a Rede Nacional de Combate à Desinformação e o Instituto Questão de Ciência.

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Graça Caldas, professora e pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas, Labjor/Unicamp e Wagner Vasconcelos da Assessoria de Comunicação, Fiocruz Brasília

 

O palestrante também destacou a importância das iniciativas da Fiocruz, como sua política de comunicação e divulgação científica, e mencionou outros grupos e projetos relevantes, como o grupo de pesquisa em jornalismo ambiental da UFRGS e as ações do Hospital Albert Einstein. Ele enfatizou que o Brasil possui numerosos grupos de pesquisa em jornalismo especializado e divulgação científica, com uma expressiva produção acadêmica, que inclui artigos, livros e participações em programas de rádio e TV. A maioria dos pesquisadores nesses grupos são mulheres. No entanto, muitos desses grupos enfrentam desafios de comunicação, como a ausência de sites próprios para divulgar suas atividades. Em resposta a isso, o palestrante propôs um projeto para aumentar a visibilidade desses grupos e suas pesquisas.

A programação do evento foi marcada pela intensidade e ainda por articulações entre ciência, arte e o lúdico, envolvendo pesquisadores do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do SESI Lab – Museu de Arte, Ciência e Tecnologia. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer o SESI Lab por meio de uma visita guiada e interativa, explorando diversas instalações que oferecem experiências com ilusões de ótica, movimentos da água e instalações de vídeo. O SESI Lab é um espaço projetado para despertar o conhecimento e o lúdico em pessoas de todas as idades. Por fim, a realização da semana foi também fruto da articulação com a paralisação das atividades da Fiocruz, em resposta à proposta do Ministério de Gestão e Inovação, que foi rejeitada pelos trabalhadores por não atender às suas demandas.

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Visita guiada ao Museu SesiLab, em Brasília (DF), pelos participantes do evento

 

Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP

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