
Maio Antimanicomial: nomes e reivindicações da luta em Goiás
Museu Memória da Saúde Mental em Goiás destaca a importância da desmistificação do sofrimento mental
Texto e arte: Letícia Lourencetti
A história da luta antimanicomial em Goiás é marcada por importantes nomes. Entre eles, está o de Deusdet do Carmo Martins. Sendo uma das fundadoras do Fórum Goiano de Saúde Mental, ela colaborou na estruturação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da capital Goiânia; dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); bem como de projetos para a implantação do Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAILI). Descrita como sensível diante das dores de quem atendia, Deusdet foi também uma líder articulada dentro e fora estado, defensora dos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental, dos trabalhadores e do SUS.

Falecida em 2014, Deusdet Martins deixou uma série de escritos não publicados que, atualmente, estão sendo organizados em um dos livros da coleção sobre a História da Luta Antimanicomial em Goiás. A iniciativa é coordenada pelo professor Eduardo Sugizaki (PUC Goiás). O docente também está à frente do Grupo de Estudos e Pesquisa La Folie, projeto parceiro do Museu Memória da Saúde Mental (IPTSP/UFG), atualmente coordenado pela professora Larissa Arbués.
O Museu Memória da Saúde Mental em Goiás, é um projeto do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (NESC/IPTSP). Este ano, o grupo participa da organização do evento chamado Maio Antimanicomial, haja visto que, no Brasil, 18 de maio é marcado como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A atividade também conta com o apoio da Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Goiás (AUSSM); o Fórum Goiano de Saúde Mental; o Coletivo Desencuca; o Sarau (R)existimos (FE/UFG); o Curso de Educação Física da Universidade Estadual de Goiás (UEG); Sindsaúde Goiás; Centro de Referência da Juventude; assim como o apoio de mandatos da Assembléia Legislativa e Câmara Municipal de Goiânia.

Uma luta atual
A programação do Maio Antimanicomial é composta por pautas que retomam a importância dessa luta não somente como um acontecimento histórico, mas como uma problemática ainda percebida no cotidiano daqueles que trabalham ou fazem uso dos serviços de atendimento à saúde mental. Segundo Larissa Arbués, que também integra o Departamento de Saúde Coletiva do IPTSP (DSC/IPTSP), a retomada do investimento na rede de saúde mental territorial no SUS (conhecida como Rede de Atenção Psicossocial ou RAPS) é uma das reivindicações feitas. “Outro desafio é implementar aquilo que foi construído e deliberado no processo democrático da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental, cuja última etapa aconteceu em 2023”, complementa a coordenadora do Museu.
Ainda de acordo com Larissa, a principal pauta levantada pela atividade é a desmistificação e o fim das barreiras criadas pelo preconceito diante das pessoas que vivem com sofrimento mental ou que fazem uso de drogas. “Alguns muros e instituições manicomiais foram desfeitos, mas o manicômio que existe ‘na cabeça’ e nas relações entre as pessoas é bem mais desafiador de extinguir”, comenta a docente “Um exemplo disso, é a persistência das Comunidades Terapêuticas como recurso à reclusão da pessoa que faz uso de drogas. Temos diversas evidências da sua ineficiência e dos riscos de violação aos direitos humanos nessas unidades, das quais muitas mais parecem cárceres”.
Também é válido ressaltar a luta pelo pleno acesso aos direitos sociais básicos (moradia, saúde, emprego e renda, cultura e segurança) por parte dos usuários da saúde mental: “Essa é, inclusive, a pauta transversal das atividades deste ano. Sem o exercício destes direitos, não há saúde mental possível” finaliza a professora Larissa.
Confira a programação dos próximos dias do Maio Antimanicomial:
Ato Público em Goiânia: 17 de maio (sexta-feira), às 8h30 - Paço Municipal
Audiência Pública - Assembléia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO)
Roda de Conversa com o Centro Pop: Direitos Sociais e Saúde Mental - Moradia e geração de renda: 22 de maio (quarta-feira), às 9h30 - Praça Universitária
Programa de Rádio SindSaúde: Formação Política para Defesa da RAPS
Encontro Artístico-cultural: 25 de maio (sábado), 8h-12h - Centro de Referência da Juventude de Goiânia
Memória da Saúde Mental em Goiás: Exposição da linha do tempo e artes na ALEGO
Para mais informações sobre o projeto Maio Antimanicomial, siga o perfil do Museu Memória da Saúde Mental em Goiás no Instagram.
*Letícia Lourencetti é bolsista de jornalismo no projeto IPTSP Comunica e é supervisionada pela jornalista Marina Sousa.
Fonte: Comissão de Comunicação do IPTSP
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