Fungos entomopatogênicos como estratégia para o controle do mosquito Aedes aegypti
Pesquisa liderada pelo Laboratório de Invertebrados (LPI) do IPTSP mostra resultados promissores
Texto: Marina Sousa
Fotos: Juscelino Rodrigues
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), o estado enfrenta atualmente a pior situação de dengue desde a década de 90, com um aumento significativo nos casos notificados e nas mortes relacionadas à doença. Em meio a esse preocupante cenário, a dengue, considerada a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, tem sido destaque em manchetes por todo o país nos últimos dias. Diante desse grande desafio de saúde pública, a comunidade científica intensifica seus esforços, e um exemplo notável é a pesquisa conduzida pelo Laboratório de Patologia de Invertebrados (LPI) do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG). O foco dessa investigação está no uso inovador de fungos entomopatogênicos como estratégia para o controle efetivo do mosquito vetor Aedes aegypti, destacando-se como uma abordagem promissora no enfrentamento dessa grave situação de saúde pública.
Liderado pelo docente do IPTSP, Wolf Christian Luz o grupo desenvolveu no estudo intitulado “Eficácia de aplicações focais de um micoinseticida para controlar A. aegypti no Brasil Central”, uma formulação granular do fungo Metarhizium humberi IP 46 para infectar fêmeas grávidas de A. aegypti, principal transmissor dos vírus da dengue, Zika e Chikungunya.
Esta formulação é colocada em um dispositivo plástico dividido em dois compartimentos: um inferior fechado como um reservatório de água e um superior, aberto, com a base coberta com um gel continuamente hidratado e a formulação fúngica fixada na borda lateral sobre um substrato de plástico preto, que foi escolhido por ser durável, robusto e atrativo para as fêmeas grávidas de A. aegypti, que deposita seus ovos em superfícies escuras e ásperas.
Atraindo Aedes aegypti
O funcionamento do dispositivo é baseado na atração das fêmeas grávidas de A. aegypti para depositarem seus ovos no substrato de plástico preto, que é tratado com a formulação fúngica granular. As fêmeas são atraídas pelo gel hidratado, uma fonte de umidade contínua e por infusão de capim-colonião (Panicum maximum). Ao entrar em contato com o substrato, as fêmeas podem se contaminar com os conídios presentes e infectar com o entomopatógeno, o que pode reduzir sua atividade e capacidade reprodutiva e levar à sua morte, e assim reduzir o número de fêmeas e a transmissão das viroses. O docente do IPTSP, Juscelino Rodrigues que também participa do estudo explica que o dispositivo permite a circulação livre de mosquitos adultos, atraindo tanto machos quanto fêmeas de A. aegypti.
A pesquisa revela que a utilização de um dispositivo simples se configura como uma estratégia promissora e segura para impactar positivamente e reduzir as populações de A. aegypti. Durante a condução dos estudos em ambientes de semi-campo e campo na cidade de Terezópolis de Goiás, localizada a 23 quilômetros de Goiânia, os cientistas colocaram dispositivos com a formulação fúngica em áreas peridomiciliares estratégicas, reconhecidas por serem propícias à oviposição de fêmeas de A. aegypti.
Atualmente, a equipe está focada em três linhas de pesquisa. A primeira delas abrange estudos sobre o tempo de prateleira do formulado que contém microescleródios e conídios. Este tempo é importante pois ele vai determinar a validade de uso do produto. A segunda linha está relacionada ao tempo do efeito residual do produto após a aplicação no dispositivo. Por último, a equipe está trabalhando no desenvolvimento de outras formulações fúngicas que possam ser aplicadas no dispositivo.
Além dos docentes do IPTSP, Wolf Christian Luz e Juscelino Rodrigues, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública (PPGMTSP/IPTSP), Juan Gabriel Mercado Martinez também compõe a equipe. O projeto ainda conta com o apoio do Laboratório de Nanosistemas e Dispositivos de Liberação de Fármacos (NanoSYS) da Faculdade de Farmácia (FF/UFG) e do Serviço de Pesquisa Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP
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