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E mais um dia foi salvo pelas Superpoderosas da Ciência

On 02/09/24 16:41 . Updated at 02/09/24 17:02 .

Acompanhe os relatos de pesquisadoras do IPTSP na jornada pela igualdade de gênero e no combate ao negacionismo científico

Texto: Marina Sousa

Arte: Mailson Diaz

 

No próximo dia 11 de fevereiro celebramos o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, cuja intenção é promover uma maior equidade de gênero no campo das ciências. E para abrilhantar ainda mais a data convidamos algumas mulheres e meninas do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG) para que elas pudessem compartilhar percepções importantes sobre suas carreiras, discriminação de gênero e também sobre a importante discussão a respeito os danos causados pelo negacionismo científico e a divulgação de fake news, pois haja superpoderes para serem defensoras da Ciência e acima de tudo, serem mulheres multiprofissionais, pesquisadoras, cientistas, professoras, filhas e super mães.

No episódio de hoje: Combate ao negacionismo científico e as fake news:

Lamentavelmente, ao longo da pandemia da Covid-19, observou-se um aumento do ataque em relação à ciência, acompanhado de desconfiança em relação à imunização por meio de vacinas e boicote às medidas preventivas. Esse fenômeno não foi um incidente isolado, dada a gravidade a Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou este fenômeno de infodemia (infodemic), o que evidencia cada vez mais  a necessidade premente de fortalecer a influência dos cientistas para superar o negacionismo científico e combater as fake news e fake science.

A professora Menira Borges de Lima Dias e Souza explica que o negacionismo é um dos piores males que o homem já praticou, visto que isso não afeta apenas a vida do indivíduo que desacredita dos fatos reais e evidências científicas, mas também a comunidade em geral, podendo colocar muitas pessoas em risco. “Tivemos um grande exemplo durante a pandemia, com a propagação de notícias falsas, o que levou a não adesão à vacinação, uso de medicamentos sem eficácia comprovada e que até poderiam causar dano à saúde, e a disseminação do vírus por falta do uso de medidas não farmacológicas de prevenção e controle”, cometa. 

Professora Menira
Professora Menira Borges de Lima Dias e Souza - Superpoder Microbiologia

 

A  professora do IPTSP, Marina Clare Vinaud, doutora em Medicina Tropical e Saúde Pública relata uma situação um tanto inusitada, “Inclusive, ouvi no rádio ontem pela manhã, que a epidemia de dengue em que vivemos foi "planejada" para induzir a população a consumir vacinas que nem estão amplamente disponíveis. Observamos o poder das redes sociais como formadoras de opinião, em que é muito mais fácil uma pessoa acreditar em um post do que estudar o assunto com mais profundidade”. Ela alerta para o fato de tudo isso ser muito prejudicial, pois coloca em xeque fatos que inclusive já foram comprovados cientificamente. “Infelizmente a propaganda feita pela mídia e por governos anteriores tem minado a confiança pública nas instituições científicas e na percepção da importância da pesquisa que realizamos. Acho que as pessoas não entendem como funciona o processo de seleção de pesquisas para financiamento, pois temos que justificar a importância social de tudo o que fazemos com o investimento público na universidade. E por não entenderem  esses processos, as pessoas se negam a compreender os benefícios dos resultados do que produzimos”, conta a doutora.

No entanto, o negacionismo também pode adotar uma perspectiva que questiona até mesmo dados já comprovados, sugerindo que para determinados fatos, a incerteza persiste. A médica infectologista e docente do IPTSP, Cristiana Toscano relembra um fato bem pertinente sobre o fármaco fosfoetanolamina sintética que ficou amplamente conhecido como “pílula do câncer” no ano de 2018. A grande questão é de que o medicamento não era aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois não havia testes da substância em seres humanos que comprovasse a eficácia do medicamento e dos efeitos colaterais, mas que chegou a ser comercializado como suplemento alimentar prometendo a cura de diversos tipos de câncer. “A gente tinha evidências indicando a não efetividade e a não eficácia desse medicamento e ainda assim o negacionismo à ciência estimulou e subsidiou o posicionamento de inúmeros grupos no sentido contrário a despeito das evidências científicas de que esse medicamento não funciona”. Cristiana Toscano ainda enfatiza que a veiculação de notícias falsas/fake news em particular no campo da vacina já é bem documentado globalmente e que mesmo assim continua sendo uma grande ameaça a saúde pública global, mas que recentemente e mesmo que lentamente o quadro de cobertura vacinal vem recebendo incentivos pelo governo nos estados e municípios e isso tem melhorado um pouco essa percepção.

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Professora Cristiana Toscano - Superpoder: Infectologia

 

Enquanto isso: igualdade de gênero no trabalho

Há inúmeros debates sobre a necessidade de ofertar às mulheres  acesso  igualitário à academia e aos órgãos de pesquisa, mas na prática não é bem isso que acontece. Marcelle Sales, virologista e docente no instituto, relata que há menos oportunidades na pesquisa, por exemplo, para as mães. “A gente é comparada com homens e mulheres que não têm filhos, sendo que a gente tem uma demanda absurda em casa, pois a criança demanda muito. Nos cinco anos após o nascimento da criança a gente tem uma queda de produtividade muito grande e as agências de fomento não querem saber disso, além do mais os nossos ambientes de trabalho não são preparados para receberem e apoiarem as mães”. Ela complementa que às vezes precisa levar o filho para a universidade enquanto trabalha e tem muita dificuldade, visto que não há espaço para amamentar a criança, ou ainda um lugar que tenha um trocador e outras necessidades que uma criança pequena demanda em situações como essas.

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Professora Marcelle Sales - Superpoder: Virologia



A discriminação também é outro ponto chave nas carreiras das pesquisadoras mães, a cientista e docente do instituto, Ana Paula Kipnis menciona que teve dificuldades para alcançar a sua liberdade. “No momento em que me casei e tive minhas filhas eu percebi que até o jeito das pessoas me verem era diferente. Muitos chegaram a fazer um pré-julgamento de que eu nunca mais seria pesquisadora ou teria uma posição de destaque na minha carreira”. Ana Paula explica que outro fator muito ruim é sobre a aparência das mulheres, que às vezes funciona como moeda de troca em relação aos pesquisadores homens. “Já fui convidada para eventos de destaque para estar ao lado de pesquisadores, mas que ninguém queria saber da minha opinião, às vezes te chamam só por você ser mulher, como se fosse uma Barbie e depois tchau”, desabafa a pesquisadora.

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Professora Ana Paula Junqueira-Kipnis - Superpoder: Imunologia

 

Segundo Marina Clare Vinaud no começo de sua carreira  acadêmica, em 2008, a igualdade de gênero nem era abordada, mas que havia uma pressão subentendida, nada manifestamente declarada, mas a expectativa era clara, mas conta que teve sorte. “Tenho que agradecer as mulheres cientistas que vieram antes de mim, especialmente no IPTSP, por se mostrarem extremamente competentes e evidenciarem que é possível ser tão competente ou mais que os homens. Entretanto, essa produtividade tem um custo, em termos de dedicação pessoal que muitas vezes é conflitante com as responsabilidades familiares e domésticas”.

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Marina Clare Vinaud - Superpoder Medicina Tropical

 

Ela conclui ressaltando que, ao longo dos anos, surgiram debates sobre o impacto da maternidade na produtividade das cientistas. Ela percebe essa discussão como uma evolução significativa e positiva, destacando a importância de compreender que os papéis assumidos na vida devem ser complementares, não conflitantes. Para ela, é crucial reconhecer que as mulheres têm a capacidade de realizar tudo o que se propõem com qualidade.

 

Destaque-se com o seu superpoder

Em celebração a esta significativa data, que busca fomentar a participação de mulheres e meninas na ciência, nós do IPTSP desenvolvemos um avatar exclusivo para que você possa baixar e utilizar em suas redes sociais. Sua contribuição nos ajudará a ampliar ainda mais a conscientização sobre a importância do papel desempenhado por mulheres e meninas na ciência, além de marcar essa ocasião especial.

iptsp - 11 de fevereiro

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