
Desvendando a Leishmaniose: Pesquisa inovadora no combate a Doenças Negligenciadas
Conheça a pesquisa do Laboratório de Imunidade Natural do IPTSP que desenvolve estudos de imunologia, genética e nanotecnologia no combate à doença Leishmaniose
Texto: Marina Sousa e Letícia Lourencetti
Arte: Marina Sousa
As doenças negligenciadas são aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitos, são consideradas endêmicas em populações de baixa renda e elas também são caracterizadas por receberem pouca atenção por meios de políticas sociais, desenvolvimento de medicamentos e investimentos em comparação com outras doenças mais prevalentes. De acordo com a Fiocruz, as doenças tropicais, como a malária, a doença de Chagas, a doença do sono (tripanossomíase humana africana, THA), a leishmaniose visceral (LV), hanseníase, a filariose linfática, a dengue e a esquistossomose continuam sendo algumas das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo e são descritas como doenças negligenciadas.
Carlos M. Morel, pesquisador da Fiocruz-RJ, destaca que o termo "doenças negligenciadas" foi introduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Médicos Sem Fronteiras, categorizando doenças como globais, negligenciadas (predominantes nos países em desenvolvimento) e mais negligenciadas (exclusivas desses países). Essa classificação reflete uma evolução além do paradigma colonial, incorporando contextos políticos, econômicos e sociais, e sublinha a importância do combate a essas enfermidades para atingir os objetivos de desenvolvimento da ONU.
Para trazer à luz essas questões cruciais de Saúde Pública, destacamos a pesquisa conduzida pela docente do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), Fátima Ribeiro Dias que coordena o Laboratório de Imunidade Natural (LIN/IPTSP), onde estão sendo desenvolvidos estudos sobre a Leishmaniose cutânea e mucosa (leishmaniose tegumentar americana, a LTA), em colaboração, atualmente, com a médica Camila Freire, professora do Departamento de Medicina Tropical e Dermatologia (DMTD/IPTSP), que também atua no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), um dos centros de referências em leishmaniose no Estado de Goiás.
Mas o que é a Leishmaniose?
Causada por parasitos do gênero Leishmania, transmitidos por algumas espécies de insetos flebotomíneos, também conhecidos como mosquito palha, tatuquira ou birigui, a doença pode ser classificada em duas formas: leishmaniose tegumentar ou cutânea (LT), que ataca a pele e as mucosas; e a visceral ou calazar, que sobrecarrega os órgãos internos, como o fígado, baço e medula óssea. Por ser uma enfermidade que não é transmitida de um ser humano para o outro, não é contagiosa e tem cura clínica. No entanto, quando não tratada, a leishmaniose visceral pode levar à morte. Caninos, felinos, equídeos, além de animais silvestres, podem ser reservatórios do protozoário.
De acordo com a docente Fátima, o Laboratório de Imunidade Natural (LIN) concentra seus estudos na interação parasito-hospedeiro, analisando tanto fatores dos parasitos quanto dos pacientes. A pesquisa visa auxiliar no desenvolvimento de estratégias imunoterapêuticas para a doença. “A leishmaniose é uma doença que precisa de tratamento com fármacos e necessita, também, de uma boa resposta imune celular do paciente. Assim, acreditamos que os casos mais complicados, com falha terapêutica, recaídas e em caso de não poder usar os fármacos que são muito tóxicos, especialmente para o coração e rins, é fundamental associar o tratamento a uma imunoterapia”, explica a pesquisadora.
A Importância da Interleucina 32 (IL-32): Avançando com Nanotecnologia para Imunoterapia
Com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o estudo analisa a atuação da Interleucina 32 (IL-32), uma proteína sinalizadora do sistema imunológico. Ela desempenha um papel importante no sistema imunológico, estando associada a várias condições infecciosas, inflamatórias e autoimunes. A IL-32 ativa a via microbicida dependente da vitamina D. A combinação desses elementos para o controle ou evasão imune de diferentes espécies de Leishmania necessita ser avaliada para o desenvolvimento de uma imunoterapia para tratar a doença, o que pode ser alcançado pelo uso da nanotecnologia.
A premissa do estudo partiu da necessidade de que a leishmaniose é uma doença que é tratada com o uso de fármacos, mas o paciente precisa desenvolver uma boa resposta imune celular. Fátima ressalta, como dito acima, que uma imunoterapia associada aos fármacos pode ser decisiva para a cura clínica da leishmaniose.
Como é feito:
A pesquisa encontra-se atualmente em uma fase crucial de experimentação in vitro, utilizando uma linhagem celular de macrófagos humanos, células fundamentais para o crescimento dos parasitos Leishmania spp. Nesse contexto, os cientistas estão focados em avaliar a resposta dessas células, analisando tanto a atividade microbicida, independente e dependente de vitamina D, quanto a produção de citocinas.
Paralelamente, há investigações envolvendo pacientes diagnosticados com leishmaniose tegumentar americana (LTA) no Hospital de Doenças Tropicais (HDT). Nesse cenário clínico, pesquisadores do Laboratório de Imunidade Natural (LIN) estão meticulosamente avaliando o perfil de resposta imune nas lesões cutâneas e mucosas (oral e nasofaríngea), bem como no sangue periférico, obtido por meio de punção venosa.

A colheita de material biológico, conduzida de maneira ética, visa extrair DNA para análises específicas de polimorfismos nos genes responsáveis pelas citocinas IL-15 e IL-32, no receptor da vitamina D e na enzima crucial para a conversão da vitamina D em sua forma ativa; além disso, a expressão de mRNA dessas moléculas nas lesões dos pacientes está sendo avaliada. A expectativa é identificar marcadores genéticos associados à suscetibilidade e resistência à doença, fornecendo uma percepção valiosa que pode orientar o desenvolvimento de estratégias para diagnóstico e tratamento da doença.
Em relação ao uso da nanotecnologia, a IL-32 e/ou a vitamina D poderão ser encapsuladas em nanopartículas para testes em células e, posteriormente em camundongos, infectados por Leishmania spp.
Colaboradores e próximos passos
A equipe, liderada pela docente do IPTSP, Fátima, conta com a participação de membros do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (PPGBRPH). Entre eles, o professor Dr. André Correa Amaral, com expertise em nanotecnologia; professor Dr. Rodrigo Saar Gomes, com expertise em modelos murinos e in vitro de infecções por Leishmania spp.; professora Ms. Camila Freire, responsável pelo acompanhamento dos pacientes; prof. Dr. Clayton Luiz Borges e colegas do Instituto Nacional de Estratégias de Interação Patógeno-Hospedeiro INCT-IPH (ICB/UFG), Iara Barreto (doutora), Ramon Vieira Nunes (pós-doc), Ana Luísa Torres (mestranda), Murilo Silveira (doutorando e técnico do LIN) e Jefferson Vinícius da Silva (doutorando). O grupo antecipa futuras publicações para compartilhar os avanços dessa pesquisa promissora.

Fonte: Comissão de Comunicação IPTSP
Categorias: Notícias Laboratório de Imunidade Natural (LIN/IPTSP)