Entenda como funciona os Sistemas de Informações em Saúde
Por que é tão importante acompanhar a gestão de dados coletados para tomada de decisão?
Texto: Marina Sousa e Ana Lúcia Leão
Bem-vindo a 6° edição da Newsletter Economia da Saúde em parceria com o Ministério da Saúde (MS), por meio do Departamento de Economia da Saúde, Investimento e Desempenho (Desid/SE) e Universidade Federal de Goiás (UFG), do ano de 2023. E para esse início, abordaremos com a professora Luciana Guerra Gallo sobre três sistemas de Informação em Saúde, que são: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINS) e Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS.
Docente do curso de Especialização em Economia da Saúde da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com o MS, Luciana Guerra Gallo, aborda no vídeo a seguir os conceitos fundamentais dos sistemas citados acima que são utilizados para orientar diversas decisões no âmbito da gestão sobre saúde, visto que os dados numéricos permitem abordar as diversas atividades baseadas em referências obtidas em toda a federação e isso permite produzir conhecimento prático que visa a tomada de decisões, e que consequentemente, tem mais condições de transformar a realidade social e de atendimento em todo o país. Como muitos são desafios e o acesso a informações é de muita importância, convidamos você a assistir o vídeo, que está disponível neste link: https://youtu.be/3DhIhC2WPn0
Vendo na prática o uso dos SIS
Os bancos de dados e o Sistema de Informação em Saúde (SIS) disponibilizados pelo Ministério da Saúde brasileiro estão cada vez mais se desenvolvendo e agregando progressivamente informações em todos os níveis de atenção à saúde, entretanto os dados ainda são pouco utilizados pelos gestores. E para conhecer na prática o exercício desses sistemas, acompanhe a seguir a entrevista com a médica e ex-secretária de Saúde de Goiânia (2017- 2020), Dr.ª Fátima Mrue.
Como tudo funciona?
Os impactos da pandemia de coronavírus influenciou inúmeros protocolos e tomadas de decisão, principalmente pelo modo avassalador do avanço da infecção na população de todo o mundo e, certamente, deixou impactos significativos – haja vista, por se tratar de uma doença que apresenta altos índices de letalidade e de grande potencial de transmissão. Logo, a compreensão e a rápida coleta de informações foram cruciais para que houvesse condições de organizar esforços e identificar as prioridades. E foi com esse foco que toda a governança tratou de buscar dados para o enfrentamento da pandemia.
A tomada de decisão na gestão do sistema público de saúde se fundamenta principalmente na informação, associada a habilidade do gestor de unir esta ao conhecimento e experiências anteriores, bem como à percepção da realidade momentânea, a explicação é da médica Dr.ª Fátima Mrue, que complementa que só a informação confiável e acessível é capaz de fornecer indicadores do resultado obtido em ações anteriormente implementadas, bem como é capaz de indicar a dinâmica de eventos epidemiológicos maiores. Assim, a tomada de decisão que prescinde da informação na gestão pública de saúde poderia ser comparada às ações empíricas à mercê de um jogo de acertos e erros.
A informação em saúde é um importante instrumento estratégico que traz uma gama de conhecimentos necessários a uma tomada de decisão nas diversas áreas como estatística, administrativa, normativa, técnica, científica e populacional. Neste sentido, veremos a seguir as ferramentas e relato da experiência da Dr.ª Fátima Mrue sobre a importância do uso da informação na tomada de decisão no enfrentamento da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, enquanto esteve no comando da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). Ela conta que inicialmente e rapidamente buscou-se um monitoramento diário junto aos vários sistemas de informação em saúde externos e internos, como veremos a seguir:
Entenda como e quando foram coletados os dados no município de Goiânia
Dados de incidência e mortalidade COVID-19
Mundial: OMS
Brasil/Estados: MS
Goiânia: SMS-Goiânia
Cidades fronteiriças: SES-Goiás
Dados sobre leitos de UTI e enfermaria
Goiânia SUS: sistema municipal de transparência na regulação de leitos em tempo real
Dados sobre internações por SRAG/COVID
Goiânia SUS: sistema municipal de transparência na regulação de leitos em tempo real.
Goiânia não SUS: SIVEP-Gripe
Dados sobre mortalidade por COVID-19 em Goiânia
Foi criado por meio de portaria um Comitê de Verificação de Óbito pela COVID-19 em Goiânia.
Dados sobre Síndrome Gripal, SRAG e COVID-19 em Goiânia
Foi instituído um sistema de informação de casos por unidade de saúde do município de Goiânia.
Dados sobre exposição da população
Foi estabelecido um estudo populacional com amostras por bairros da capital para verificar a presença de anticorpos.
Dra Fátima Mrue argumenta que com base no monitoramento diário desses dados foi possível identificar o curso da COVID-19 na capital e antecipar o preparo das equipes, das unidades de saúde e da assistência à população. Dentre as ações tomadas com base nos dados disponíveis, destacam-se:
Implementação de leitos hospitalares e força de trabalho com base na informação
Ela conta que inicialmente o simples monitoramento do número de leitos disponíveis, especialmente de UTI, proporcionou a importante informação de que os leitos seriam insuficientes para a devida assistência à pandemia, sinalizando a necessidade de prover mais leitos antecipadamente. “Com isso, até dezembro de 2020 foram criados mais 119 leitos de UTI e mais 90 leitos de enfermaria, somando o total da rede para 222 leitos de UTI e 206 leitos de enfermaria. Da mesma forma, os dados subsidiaram a ampliação dos recursos humanos destinados ao trabalho direto bem como a substituição dos profissionais de saúde vulneráveis os quais foram direcionados para execução de tarefas administrativas e teleatendimento”. Outros dados foram:
Testagem ampliada da população e implementação de telemedicina com base na informação
Neste ponto, a SES-GO ao identificar e interpretar a informação de um aumento nas notificações de síndrome respiratória em um determinado distrito sanitário, foi possível antecipar a instituição da testagem ampliada naquela região formando assim, um bloqueio à disseminação da doença. Da mesma forma, o monitoramento do aumento do número de internações hospitalares por SRAG e o rastreamento do endereço residencial dos pacientes proporcionou a intervenção na região com testagens e isolamento da população positiva ou contactante direta.
Criação de fluxo de atendimento personalizado e equânime com base na informação
A interpretação dos dados obtidos do comitê de verificação de óbitos pela COVID-19 em Goiânia tornou possível identificar que 66% dos óbitos ocorreram em pessoas diabéticas ou cardiopatas (30% e 36%, respectivamente). Com isso foi utilizado de forma direcionada o sistema de informações de atenção básica do município para rastrear o número de diabéticos, por bairro, especialmente os insulinodependentes por serem mais vulneráveis e os que eram diabéticos e cardiopatas. De posse desses dados foi possível estabelecer um fluxo de atendimento nas unidades de saúde implementando para esse grupo específico uma abordagem direcionada.
Implementação de medida para redução de óbito na população vulnerável com base na informação
As informações provenientes do comitê de investigação de óbito pela COVID-19 apontaram que 30% dos pacientes que morriam de COVID-19 em Goiânia eram diabéticos e apresentavam importante descompensação glicêmica. Essa informação tornou possível implementar a compra de monitores cutâneos de glicemia para acompanhamento por telemedicina para que fosse possível identificar e corrigir oportunamente as alterações glicêmicas eventuais.
Implementação de um inquérito populacional com base na informação e para informação
As informações da dinâmica dos casos na capital e os dados da projeção de casos e óbitos calculada pela equipe de pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG) subsidiou a decisão de implementar um estudo populacional na capital – o que permitiu uma compreensão do possível caminho temporal do vírus pelas regiões da cidade, e assim melhor planejar as ações prioritárias de acordo com a região.
Para a médica Fatima Mrue, a tomada de decisão baseada no uso adequado da informação é que conferiu a Goiânia os bons indicadores no enfrentamento da COVID-19, tendo ao final do ano de 2020 uma taxa de letalidade de menos de 3% (2,46%) e uma taxa de mortalidade de 136 por 100.000 habitantes. Goiânia apresentou nesse período indicadores de mortalidade abaixo da média no Brasil e das capitais e esteve entre as 10 capitais com os menores indicadores de mortalidade do país.
“A informação em saúde dá subsídio ao gestor para as decisões estratégicas, táticas e operacionais constituindo-se assim em um importante instrumento estratégico para a definição de políticas públicas locais, quando dela o gestor faz bom uso”, finaliza Fatima Mrue.
Dr.ª Fátima Mrue é médica, cirurgiã geral e oncologista, possui mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Assistente da Faculdade de Medicina da UFG e Professora Adjunta do Departamento de Medicina da PUC-Goiás. Ela também foi ex-Secretária Municipal de Saúde de Goiânia (2017 a 2020).
Source: Comissão de Comunicação IPTSP
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